As ossadas de um santo cristão foram descobertas no meio dos escombros de um antigo mosteiro católico destruído pelo Estado Islâmico em Al-Qaryatain, cidade recuperada pelas forças do Governo sírio este domingo.
Grande parte do mosteiro de São Elian (ou Mar Elian), na província de Homs, região centro da Síria, foi reduzido a escombros pelo Daesh em agosto de 2015. O grupo radical sunita divulgou na altura imagens da destruição do antigo mosteiro católico, datado do século V, com recurso a explosivos e bulldozers.
O diretor do Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), Rami Abdel Rahman, descreveu na altura que os extremistas destruíram o mosteiro de Mar Elian “sob o pretexto de que o monumento é usado para adorar um outro deus que não o Deus verdadeiro”.
Erecta no século V, uma das duas igrejas do mosteiro, construída com pedras secas e tijolos de barro, hoje é apenas um amontoado de escombros.
O crânio e os ossos de Mar Elian, também conhecido como São Julião de Emesa, um santo cristão de Homs martirizado pelos romanos por se ter recusado a renunciar a sua fé, continuam num sarcófago de pedra, mas a sua tampa, decorada com duas cruzes, foi partida.
“Trata-se precisamente dos seu sarcófago e dos seus ossos”, confirmou à AFP o padre Jacques Mourad, responsável pelo mosteiro sírio-católico, que foi sequestrado em maio de 2015 depois da tomada da antiga cidade de Palmira e conseguiu fugir em outubro de 2015.
O mosteiro, com 16 quartos, está parcialmente destruído pelos bombardeios, e no refeitório estão amontoadas panelas e pratos utilizados pelos jihadistas para a sua cozinha.
A especialista May Mamarbachi, que há dez anos participou da restauração do local, explicou à AFP que os ossos encontrados anteriormente por arqueólogos em dois cemitérios mamelucos e otomanos, ligados ao mosteiro, estão guardados em sacos, numa pequena sala.
A entrada e o interior da nova igreja do mosteiro, inaugurada em 9 de setembro de 2006 na presença de líderes religiosos cristãos e muçulmanos, estão totalmente carbonizados. As vigas que sustentam o teto e a pedra que servia de altar estão partidos.
De acordo com o padre Jacques Mourad, outras duas igrejas no centro da cidade de Al-Qaryatayn, uma sírio-ortodoxa e outra católica, foram queimadas na primeira semana da chegada dos jihadistas.
O mosteiro de Mar Elian tem o nome de um santo oriundo de Homs que foi martirizado pelos romanos em 284 d.C., ao recusar abandonar o cristianismo. O local tem sido um lugar de peregrinação e de diálogo inter-religioso em Al-Qaryatain (“as duas aldeias”, em árabe), cidade que também é um símbolo da coexistência entre cristãos e muçulmanos.
Al-Qaryatayn foi reconquistada pelo exército no último domingo, e era um dos últimos redutos do Daesh em Homs, a maior província da Síria.
ZAP / Agência Brasil