Júpiter foi atingido este mês por um um corpo celeste não identificado – que pode ser um cometa ou um asteróide – mas o impacto só foi confirmado esta semana com a ajuda de imagens divulgadas por dois astrónomos amadores.
O evento espacial, que aconteceu a 17 de março, foi captado pelo astrónomo amador Gerrit Kernbauer, de Mödling, na Áustria, que gravava um vídeo usando um telescópio de 20 centímetros, do mesmo tipo que é normalmente usado para tirar fotos de alta resolução.
Às 00:18:33 (hora de Lisboa), Gerrit Kernbauer identificou um pequeno brilho num dos extremos de Júpiter, no quadrante superior direito.
A área brilhante poderia ser prova de uma colisão do planeta com outro corpo celeste, mas também poderia ser um defeito da imagem, já que estas “explosões” podem acontecer devido a um reflexo de luz no sistema ótico do telescópio.
Assim, seria necessário que alguém, noutro lugar do mundo, tivesse filmado Júpiter ao mesmo tempo e visto o mesmo brilho.
Eis que o improvável aconteceu: outro astrónomo amador, o irlandês John McKeon, também estava a observar e a gravar o mesmo acontecimento com um telescópio de 28 centímetros, um pouco a norte de Dublin.
Até agora, no entanto, pouco se sabe sobre a natureza do objeto que colidiu com Júpiter.
De acordo com Phil Plate, autor do blog Bad Astronomy (que divulgou as primeiras imagens), trata-se de uma forte evidência de que realmente se trata de um impacto, notando que estas colisões com Júpiter acontecem cerca de uma vez por ano.
Como o brilho foi curto e não muito brilhante, o impacto não parece ter sido muito grande, e o mais provável é que se trate de um corpo celeste com algumas dezenas de metros de diâmetro, um pequeno asteróide ou um pequeno cometa.
Tiro ao alvo cósmico
Algumas dezenas de metros de diâmetro serão o suficiente para causar um brilho na atmosfera de Júpiter? A resposta é “sim”, desde que a velocidade seja suficiente.
Em Júpiter, não só os impactos acontecem a velocidades maiores, mas o próprio planeta tem uma gravidade tremenda, que deve acelerar ainda mais qualquer corpo que esteja em rota de colisão.
Em média, qualquer objeto que colida com Júpiter terá 25 vezes mais energia de impacto do que se fosse contra a Terra. Imagine o asteróide de Chelyabinsk – que tinha cerca de 19 metros e explodiu com a energia de 500 mil toneladas de TNT – a fazer a mesma coisa, mas com 25 vezes mais energia.
Atingir a atmosfera em velocidades maiores tem o mesmo efeito de atingir uma parede sólida. O asteróide acaba por explodir no ar: o ar e a rocha aquecem, a rocha parte-se, as partes continuam a aquecer e volta partir, numa cascata de rupturas e aquecimentos que dissipa toda a energia cinética do asteróide em apenas um ou dois segundos.
No entanto, Júpiter já tem uma longa história de impactos.
Os mais famosos foram a série de impactos do cometa Shoemaker-Levy 9 em 1994, um impacto de 2009 com alguma coisa relativamente grande, os dois impactos de 2010, um em julho e o outro em agosto, e o impacto de setembro de 2012.
Em média, Júpiter sofre um impacto grande o suficiente para ser visto da Terra pelo menos uma vez por ano.
No entanto, não temos um vídeo por ano por que a maioria destes impactos não estão visíveis, ou por que acontecem no lado distante de Júpiter, ou por que Júpiter está demasiado próximo do Sol para poder ser observado.
Além disso, o impacto dura apenas alguns segundos. Imagine observar um filme que pode durar várias horas apenas para observar um evento que dura uma breve fração de segundo.