Uma minoria de investigadores científicos tem acesso a trabalho com direitos e quase 78% nunca tiveram um contrato de trabalho, concluiu um inquérito da Associação de Combate à Precariedade-Precários Inflexíveis.
No âmbito do Roteiro Contra a Precariedade na Investigação Científica, os Precários Inflexíveis lançaram um inquérito para “conhecer detalhadamente aquilo que os/as investigadores/as já conhecem bem nas suas vidas: o peso da precariedade no trabalho científico realizado em Portugal e a ‘fuga de cérebros'”.
Realizado ‘online’ e durante um mês, o inquérito mostrou que quase 78% dos investigadores nunca trabalharam, em investigação, com um contrato de trabalho“, enquanto quem beneficiou de pelo menos um contrato aproxima-se dos 22 por cento.
A associação trabalhou numa amostra de 1.820 respostas, a maior parte, 44,9%, de inquiridos com o grau académico de doutor e registou que “apenas 15,7%” dos inquiridos trabalham mediante um vínculo laboral e “apenas 20,4% rejeitam a hipótese de emigrar”.
Dos inquiridos, cerca de 21% não estavam associados a qualquer unidade de investigação ou laboratório e 69% afirmaram-se bolseiros e 15,7% com um vínculo laboral, seja contrato, recibo verde ou estágio. Dos que têm vínculo 27,4% dispõem de contrato sem termo.
“Na investigação científica, a máxima precariedade é a regra”, concluiu a associação, acrescentando que a “desproteção social no desemprego é comum”.
“Considerando que 715 destas pessoas indicaram nunca ter tido acesso a um contrato de trabalho na área da investigação, inferimos que 79,5% destes investigadores não tiveram acesso a proteção social quando estiveram numa situação de desemprego”, lê-se no documento.
A situação académica/laboral atual mais comum, 32,7%, foi a de completar o doutoramento, seguindo-se o pós doutoramento (25%) e os investigadores não integrados, ou seja os que não pertencem aos quadros das unidades de investigação por incumprimento de vários critérios cumulativo como o grau de doutor e um vínculo laboral com uma instituição científica (15%).
As estatísticas mostraram ainda que 09% estavam desempregados, 6,1% efetuavam apoio técnico à investigação, 04% responderam ser investigares integrados e 2,7% professores.
A associação concluiu ainda que a condição de bolseiro é maioritária entre quem completou a sua formação académica e acrescentou que mais de metade dos bolseiros acumula essa situação “entre cinco a 15 anos”, com cerca de 200 pessoas a serem bolseiras há mais de 10 anos e 20 há mais de 15 anos.
Em relação à duração da sua bolsa atual, 30,9% dos inquiridos registam uma duração entre três e quatro anos, enquanto 8,1% têm uma bolsa com uma duração superior a quatro anos.
“Ser investigador em Portugal é andar de bolsa em bolsa” e há acumulação de bolsas “sem vislumbrar a possibilidade de integração numa unidade de investigação”, são outras das conclusões deste inquérito.
Nas perguntas relacionadas com “emigração/’fuga de cérebros'”, 20,4% dos inquiridos responderam negativamente quanto a essa vontade e 33,1% afirmaram-se indecisos. Entre os que já emigraram contam-se 13,4% do total.
“A relação entre a máxima precariedade, o desemprego e a vontade de sair do país é inequívoca”, notou a associação para quem a “chamada ‘fuga de cérebros’ como fenómeno massivo dentro da comunidade científica é um risco iminente”.
/Lusa