O ministro dos Negócios Estrangeiros afirmou, esta quarta-feira, que continua a ser atingível ter 70% da população adulta na União Europeia vacinada até ao fim do verão.
Numa programa “Grande Entrevista”, da RTP3, Augusto Santos Silva admitiu que o processo de vacinação na União Europeia está a “decorrer com alguns percalços”, mas afastou o cenário de estar a ser um “fracasso”.
“Nós temos um objetivo, que é ter 70% da população adulta na União Europeia vacinada até ao fim do verão e não revimos esse objetivo. Esse objetivo continua a ser atingível“, disse o ministro dos Negócios Estrangeiros.
“A AstraZeneca tem um problema grave de capacidade de produção, que tem resultado no facto de estar a atrasar as suas entregas e a dizer que vai fazer entregas substancialmente inferiores ao que está acordado. Nós estamos a exigir que o contrato seja cumprido e estamos a procurar que a capacidade de produção que existe na União Europeia seja toda mobilizada para que este atraso seja superado”, explicou.
O governante considerou que “não é admissível que as duas fábricas que a AstraZeneca tem no Reino Unido, que não têm nenhum problema de produção, estejam a ser usadas para vender apenas ao Reino Unido e não para compensar o problema de produção que tem na Bélgica”.
Para contornar esta quebra de fornecimento, Santos Silva explicou que o que se está a tentar fazer “a nível europeu é compensar com fornecimentos adicionais como, por exemplo, da Pfizer”.
“É isto que nos leva a dizer que ainda não está posto em causa o objetivo de chegar ao fim do verão com 70% da população adulta vacinada”, afirmou.
O ministro afirmou ainda que a atual suspensão da vacina não tem nada a ver com este problema de produção, considerando que isso não faz qualquer sentido.
“Então estamos a pressionar a AstraZeneca para cumprir o contrato e aumentar o fornecimento e, ao mesmo tempo, íamos suspender a administração das vacinas? Só se fôssemos masoquistas. Foi uma decisão de política pública“, declarou.
Questionado sobre a eventual utilização das vacinas russas e chinesas, o ministro que tutela a pasta dos Negócios Estrangeiros afirmou que não há nenhum problema com estas vacinas, a não ser que “não passem na EMA [Agência Europeia do Medicamento]”.
Sobre o facto de países como a Hungria ou a República Checa estarem já a adquirir estas vacinas, ao contrário do que foi acordado entre os Estados-membros, Santos Silva considera que esta decisão “põe em causa o princípio da unidade e segurança“.
“Nunca nos podemos esquecer que fazemos parte de um mercado com quatro grandes liberdades, uma delas que permite a liberdade de circulação de pessoas. As medidas que eu tomo devem ser coordenadas com outros porque eu tenho esse direito de circular e nós queremos repor essa liberdade de circulação o mais cedo possível”.
Falando sobre o passe verde de vacinação, que foi apresentado esta quarta-feira pela Comissão Europeia, Santos Silva disse que o Governo português apoia esta ideia, pelo facto de “facilitar imenso a circulação”.
O ministro assegura que não vai haver problemas de desigualdade, porque as pessoas vão poder continuar a entrar noutros países apresentando o teste PCR com resultado negativo. Ou seja, este passe “não é uma condição única”, há outras possibilidades.
Questionado sobre os polémicos gastos e ajustes diretos da presidência portuguesa da União Europeia, Santos Silva afirmou que assistiu e participou em “mais de uma dezena de presidências”, salientando que, “em todas, menos numa, a alemã, se recorreu a patrocínios”.
“Há uma questão de poupança, mas sobretudo uma questão de promoção de produtos portugueses ou de setores portugueses. Isto não é uma coisa boa para Portugal? Não estamos a promover o nosso setor agroalimentar?”.