O que o Kremlin esperava ser uma rápida “operação militar especial” acabou por desenrolar-se por 16 meses e meio, sem nenhum fim à vista. E perdeu-se muito mais do que aquilo que se ganhou.
Foi há 500 dias, na manhã de 24 de fevereiro, pelas 5h50 de Moscovo, que Vladimir Putin se dirigiu aos seus compatriotas para anunciar o que durante semanas os governos europeus e norte-americano vinham a antecipar, mas que o Kremlin insistiu em classificar como “especulações provocatórias“: a Rússia invadiu a Ucrânia.
Aquilo que o Kremlin esperava ser uma rápida “operação militar especial” acabou por desenrolar-se por 16 meses e meio, até hoje, e assim continuará — não há desempate entre o avanço russo e a contraofensiva ucraniana.
A Ucrânia precisa do dobro do seu Produto Interno Bruto (PIB) pré-guerra para se reerguer no eventual pós-guerra, segundo relatório do Banco Mundial. A esperança encolhe ainda mais para milhões de ucranianos.
Nestes 500 dias sombrios:
- 6,3 milhões de ucranianos tornaram-se refugiados de guerra, de acordo com dados da agência de refugiados da Organização das Nações Unidas (ONU);
- 9083 civis foram mortos na Ucrânia, de acordo com o Gabinete de Direitos Humanos da ONU — um número que se crê ser muito mais elevado;
- 15.779 civis foram feridos na Ucrânia, segundo o mesmo gabinete.
A crise de refugiados na Ucrânia é, segundo a Al Jazeera, a que regista um crescimento mais rápido desde a Segunda Guerra Mundial. Partiram de Bucha, Chernivtsi, Kiev, Kharkiv, Odesa e de muitos outros lares 6,3 milhões de cidadãos, dos quais quase seis milhões foram para outros países da Europa.
O destino da maioria foi mesmo a Rússia, seguida da Alemanha, Polónia, Chéquia e Reino Unido. Mas esses não foram os únicos — outros seis milhões de deslocados estão distribuídos pela Ucrânia. A maioria, mulheres, visto que os homens entre os 18 e os 60 anos são forçados a combater.
Além de custos de destruição avaliados em mais de 130 mil milhões de euros (segundo a Escola de Economia de Kiev), 500 dias de guerra terão resultado em quase de 10 mil mortes de civis. Estima o Gabinete dos Direitos Humanos da ONU que, em território controlado pelo governo ucraniano, 7072 morreram e 13 mil ficaram feridos. Já do lado controlado pelo Kremlin, as estimativas apontam para 2011 mortes e 2778 feridos.
Os cálculos das baixas militares, por sua vez, vão ficando cada vez mais desfocados. Acredita-se que os números de baixas divulgados por Kiev e Moscovo mentem. Sobram os números de terceiros.
De acordo com o Ministério da Defesa britânico, no primeiro ano da guerra, a Rússia viu morrer entre 40 e 60 mil tropas do seu exército e das forças contratadas, como é o caso do grupo Wagner.
(1/5) Russian Ministry of Defence and private military contractor (PMC) forces have likely suffered 175-200,000 casualties since the start of the invasion of Ukraine. This likely includes approximately 40-60,000 killed.
— Ministry of Defence 🇬🇧 (@DefenceHQ) February 17, 2023
A Rússia sofreu, de acordo com uma avaliação da Agência de Inteligência de Defesa dos EUA partilhada pela Reuters, entre 189 e 223 mil baixas no total — 35 a 43 mil mortos em ação e 154 a 180 mil feridos.
Os EUA dizem que a Ucrânia sofreu até 131 mil baixas no total — até 17 mil mortos em ação e até 113 mil feridos em ação.
Há um ano acreditava-se que a Rússia controlava 20% do território ucraniano. Hoje esse número estabiliza-se nos 17%, segundo o The Guardian.
“Quando é que acaba?” é a pergunta que queremos ver respondida, mas com a Rússia a ser aparentemente empurrada para fora da Ucrânia, cuja contraofensiva progride a ritmo lento, não há por enquanto qualquer luz ao fundo do túnel.