500 anos depois, Portugal volta a esquecer Camões

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Quem voltou a esquecer Camões? 2024 marca o ano do quinto centenário de vida do “pai da língua portuguesa”, Luís Vaz de Camões. Contudo, o programa das comemorações dos 500 anos do poeta – proposto pelo Governo em 2021 e que devia ter ficado pronto até ao final de 2022 – ainda está por fazer. “Prometeis, e não cumpris? // Pois sem cumprir, tudo é nada”.

Luís Vaz de Camões nasceu em Lisboa, em 1524, há quase 500 anos.

A história conta-nos que, em vida, o poeta foi desprezado por Portugal e pelos portugueses.

Camões é hoje reconhecido como a figura mais notável da literatura portuguesa, mas tal reconhecimento surgiu apenas alguns anos após a sua morte, a 10 de junho de 1580.

Os 500 anos do nascimento de Luís de Camões assinalam-se no próximo ano, mas o programa das comemorações que deveria ter sido proposto ao Governo até final de 2022 não existe, porque depende de estruturas que nunca foram criadas.

Parece que Portugal (ou, neste caso, o Governo) voltou a esquecer Camões…

O diploma do Conselho de Ministros justificava a importância da realização das comemorações do quinto centenário do nascimento de Luís Vaz de Camões, com o facto de se tratar do “expoente maior da literatura portuguesa e símbolo da vocação universalista da língua e da cultura [portuguesas]”.

O objetivo destas comemorações era precisamente celebrar o contributo do poeta para a história da literatura e da língua portuguesas.

“Os 500 anos do nascimento de Camões são, assim, uma oportunidade única para pensar o legado de um poeta omnipresente, tanto na literatura como na identidade portuguesas, um dos maiores vultos da literatura universal, cujo génio é reconhecido como fundador de uma ideia de universalidade que hoje nos surge como revolucionária na escrita, na vocação e no pensamento”, lê-se na resolução.

“Sem cumprir, tudo é nada” (quem disse?)

Neste momento, o que existe é o anúncio da intenção do Governo de comemorar a data – mas isso já existia em maio de 2021.

Nessa data, uma resolução do Conselho de Ministros determinou a realização das comemorações, nomeando uma comissária e estabelecendo a criação de uma Comissão de Honra pelo Presidente da República, a criação de um Conselho Consultivo, por despacho dos ministros dos Negócios Estrangeiros e da Cultura, e a criação de uma estrutura de missão.

O mesmo diploma definia que o programa deveria ser concluído e proposto ao Governo até ao final de 2022, e que as comemorações decorreriam entre 12 de março de 2024 e 10 de junho de 2025.

No entanto, a catedrática Rita Marnoto, comissária designada para preparar o programa das comemorações, da Universidade de Coimbra, especialista em Literatura, afirma que nenhuma medida foi tomada para a criação dessas instâncias, condição necessária para o desenvolvimento do projeto e do programa, e que continua a aguardar que sejam tomadas medidas nesse sentido.

“Desde essa nomeação [em maio de 2021], estou na expectativa de que sejam designadas as duas comissões e a estrutura de missão. Quer dizer, a criação das duas comissões e da estrutura de missão são condição para que a comissária possa começar a trabalhar, a fazer os seus projetos, a fazer a programação”, justificou.

“Mudam-se os tempos…” (quem disse?)

Questionada sobre se ainda poderá haver tempo para a concretização do calendário das comemorações, previstas para começar em março de 2024, Rita Marnoto considera que “será uma meta difícil de atingir, pela forma como o processo se tem vindo a desenvolver”.

“A conjuntura em que vivemos atualmente é de um Governo que está em vias de terminar funções. Temos eleições em março, a seguir teremos um novo Governo, teremos novos governantes que, obviamente, precisarão de tempo para se inteirar dos dossiers, por isso não é de prever nos tempos imediatos”, afirmou.

A Lusa questionou o Ministério da Cultura sobre este assunto, na terça-feira, mas até ao momento da publicação deste artigo ainda não obteve resposta.

ZAP // Lusa

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  1. “Os 500 anos do nascimento de Luís de Camões assinalam-se no próximo ano, mas o programa das comemorações que deveria ter sido proposto ao Governo até final de 2022 não existe, porque depende de estruturas que nunca foram criadas”, todavia a aceitação de um acordo ortográfico que em nada tem a ver com a língua de Camões foi extramente rápido.

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