Dezenas de nacionalidades e vários idiomas: As escolas têm um novo desafio

SESI SP / Flickr

A multiplicação de nacionalidades tem sido um grande desafio nas escolas e tornou as bibliotecas escolares num polo de acolhimento e de integração de alunos imigrantes. Como dar resposta?

A multiplicação de nacionalidades é o novo grande desafio nas escolas.

No passado, Portugal tinha “bolsas” de alunos estrangeiros em algumas zonas do país, mas atualmente esta situação está disseminada a todo o território, disse a coordenadora da Rede Nacional de Bibliotecas Escolares.

Manuela Pargana da Silva deu como exemplo o Agrupamento de Escolas Francisco de Arruda em Alcântara, Lisboa, que atualmente tem estudantes de cerca de 40 nacionalidades.

“Isto é uma realidade de todas as nossas escolas e temos mesmo de enfrentar e ter respostas adequadas”, salientou a coordenadora das bibliotecas escolas, classificando a escola como um lugar onde pode funcionar uma melhor integração, melhor conhecimento entre os alunos que chegam e os que são da escola, e a integração do que é diverso em cada uma das suas culturas.

A escola de Alcântara, sede do agrupamento, à semelhança de outras espalhadas pelo país, tem muitos alunos que não falam português.

Para esses alunos, a biblioteca é o grande suporte

Manuela Pargana da Silva destacou o aumento das atividades das bibliotecas escolares dirigidas a alunos imigrantes, na última década.

A dirigente recorda que têm as bibliotecas têm de estar preparadas para receber os alunos que chegam em qualquer altura do ano letivo vindos dos mais diversos pontos geográficos e desconhecendo em absoluto a língua portuguesa.

Na escola Francisco Arruda, onde antes chegavam muitos alunos brasileiros, nomeadamente, chegam agora alunos da Ucrânia, América Latina, Colômbia, Norte de África (Argélia e Marrocos), África do Sul, Argentina, Índia, Nepal, Bangladesh ou Filipinas.

Como dar resposta?

Consoante os países de origem dos alunos, as atividades da biblioteca escolar são adaptadas e diversificadas, explicou a professora bibliotecária da escola Francisco de Arruda, Lurdes Caria, salientando o trabalho de integração que é feito ao nível dos afetos e, depois, a pouco e pouco, ao nível curricular.

Principalmente os alunos mais novos, do primeiro ciclo, que chegam à escola sem falar uma palavra de português, são rápidos a aprender a nova língua e frequentemente são o grande suporte e guia das famílias para tarefas como a realização de documentos oficiais, como o cartão do cidadão, ou uma deslocação até à junta de freguesia.

“Estes alunos vêm muito à biblioteca pedir esse tipo de ajuda, como saber onde podem ir com o pai resolver um problema relacionado com a água, gás ou da luz da casa, ou para um irmão mais velho poder tirar a carta de condução (…) estes pequeninos, talvez por menos vergonha, são muito o suporte da família nos primeiros anos que chegam à escola”, contou Lurdes Caria.

Na biblioteca da escola, onde decorria uma aula de francês para uma turma de alunos de língua portuguesa não materna, ouvia-se português misturado com outras línguas e até a professora recorria ao inglês para comunicar com os alunos quando o francês e o português não funcionavam.

“O que significa ‘tudo bem’?”

Vindo do Bangladesh, na Ásia, para Portugal há quase três anos, junto com a família, Fayeeza Nureen, um aluno de 13 anos da escola Francisco Arruda, lembrou como demorou quase sete meses a conseguir falar português e que foi com a família, professores e colegas que conseguiu aprender a língua.

“Quando cheguei nem sabia dizer ‘olá, tudo bem’. Lembro-me de perguntar ao meu pai o significado de ‘tudo bem’”, contou este aluno do 7.º ano de uma turma com cerca de 30 alunos de várias nacionalidades, como Índia, Nepal, Ucrânia ou Rússia, e que conta com uma minoria de alunos portugueses.

Yashvir Patel, da Índia, de 14 anos, conta que foi em casa que aprendeu a falar português, porque na escola não podia usar telemóvel e tradutor.

ZAP // Lusa

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