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Cantou Portugal e do fado fez história. 100 anos de Amália, a voz que nunca morre

Se fosse viva, Amália Rodrigues faria esta quinta-feira 100 anos. Embalada pelo fado, com Portugal ao peito e a vibrar nas cordas da guitarra, a voz que nunca se cala celebra-se hoje – e sempre.

Amália da Piedade Rodrigues nasceu em Lisboa, em casa dos avós maternos, naturais do Fundão, oficialmente no dia 23 de julho, mas na verdade em data incerta. Na dúvida, soprava as velas duas vezes por ano, a 1 e a 23 de julho. O Público escreve que o ícone viveu, dos 14 meses aos 14 anos, com os avós maternos na Rocha do Conde de Óbidos e em Alcântara. Aos 12 anos abandonou a escola para trabalhar, tornando-se aprendiz de costureira, bordadeira e operária.

Em 1938, às escondidas, um irmão de Amália levou-a à Academia de Santo Amaro, onde cantou. Foi aplaudida, os aplausos provocaram intrigas entre as outras concorrentes que acabaram por recusar competir com ela. Afastou-se, mas a experiência deu-lhe um presente ainda maior: conheceu o guitarrista amador Francisco Cruz, com quem viria a casar-se em junho de 1940, a separar-se em 1943 e consumado o divórcio anos mais tarde, em 1949.

Em julho de 1939 estreou-se no Retiro da Severa como fadista profissional e em outubro tornou-se cabeça de cartaz. Amália ia crescendo, emaranhando-se no fado e alcançando, a passos largos, uma projeção inesperada fora de Portugal. Atuou, pela primeira vez fora do país, em Madrid, em 1943, seguindo-se em 1944 o Brasil.

Lá, casou-se pela segunda vez, em 1961, com César Seabra. Em 1952 estreou-se em Nova Iorque, onde esteve 14 semanas em cartaz, antes de um filme francês (Les Amants du Tage, 1954) a ter projetado em França. A partir daí, o mundo conheceu Amália. Em Portugal, desdobrava-se por vários palcos e cantava os maiores poetas do fado.

Esta quinta-feira, sopram-se as velas centenárias à maior fadista que Portugal alguma vez conheceu. Com elas, lançam-se, numa caixa com cinco CD, quatro gravações inéditas feitas em França. A caixa “Amália em Paris“, agora lançada pela Valentim de Carvalho, revela 20 anos da carreira da fadista e as suas atuações em França.

FD / Museu do Fado

Os restos mortais da fadista Amália Rodrigues foram trasladados para o Panteão em 2001

Segundo a Renascença, os quatro CD incluem gravações realizadas entre 1957 e 1965, de atuações ao vivo e em estúdio na Rádio France, e dois espetáculos no Olympia, em 1967 e em 1975, e ainda uma atuação para emigrantes portugueses, em 1964. Nesta compilação, há ainda um CD com o já conhecido espetáculo de Amália no famoso Olympia, em 1956.

A caixa comemorativa é também composta por um livro de 94 páginas com fotografias inéditas, uma cronologia das atuações na capital francesa, e um texto do historiador Jorge Muchagato: um espólio de Amália para Portugal.

Além da caixa comemorativa, a data é assinalada esta noite, na RTP1, com um documentário inédito: Eu Amália, de Nuno Galopim e Miguel Pimenta. Além disso, dois concertos, quase em simultâneo, vão brindar a plateia do Museu do Fado e da Herdade do Brejão com uma lufada de ar fresco dos temas mais emblemáticos de Amália Rodrigues.

Os 100 anos de Amália são eternizados com outras iniciativas, como uma missa de ação de graças, na Igreja de São Vicente de Fora, em Alfama, às 9h30, acompanhada por instrumentos de corda e por leituras de poemas.

Às 11h, no Panteão Nacional, haverá a cerimónia oficial de uma emissão de selos comemorativa do centenário, numa colaboração entre a Fundação Amália e os CTT – Correios de Portugal.

Também esta quinta-feira, o presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, apresenta um voto para assinalar o centenário do nascimento de Amália Rodrigues e, como forma de homenagem, os deputados vão ouvir na sala de sessões o fado “Com Que Voz”.

No voto que será apresentado pelo presidente da Assembleia da República, que vai ser lido na sessão plenária desta tarde no parlamento, Ferro Rodrigues considera que “celebrar Amália Rodrigues é reconhecê-la como génio musical complexo, em todas as suas facetas – de fadista, criadora e poeta -, sem falsos unanimismos nem retratos simplistas e ficcionados, incompatíveis com a liberdade com que sempre viveu”.

“Amada pelo público, era ao povo e à arte que Amália dedicava a sua lealdade, o que lhe proporcionou uma história íntegra e apaixonante. E se o fado lhe deve o reconhecimento como Património Imaterial da Humanidade, Portugal deve-lhe a maior homenagem, que é a preservação e a divulgação da sua magnífica obra, muito além das casas de fado, onde continuará a viver no amor de muitas gerações de fadistas”, sustenta Ferro.

No dia 30 deste mês, será transmitido, na RTP, o espetáculo No Tempo das Cerejas, e em setembro (de 3 a 6) haverá nos Jardins do Palácio Pimenta o ciclo Amália no Cinema. O Público escreve ainda que no dia 24, no teatro São Luiz (21h), o concerto 100 anos de Joel Pina; no dia 27 o teatro musical 100 Amália, para as novas gerações, dirigido por Camané; e em outubro (2 e 3) o Festival Caixa Alfama, vão comemorar o legado amaliano.

Em novembro, haverá no CCB (dia 27) um concerto único de tributo, Amália, Que Não Chegaste a Partir, além de várias edições discográficas em 2020, em datas a anunciar.

Ecoa-se o fado, na comemoração centenária da voz que a própria Amália não sabia bem de onde vinha.

LM, ZAP //

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