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Queda histórica das Euribor beneficia quem tem crédito e penaliza quem poupa

Paulo Fehlauer / Flickr

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A redução histórica das taxas Euribor é uma boa notícia para as famílias com crédito à habitação, que pagarão menos, e má notícia para quem tem depósitos e para as expectativas quanto à inflação.

“Quem tem créditos ou financiamentos tem de despender menos. Agora, para quem tem depósitos, porque privilegia não ter risco, ou os fundos de pensões, que não se podem expor a certos ativos mais arriscados, aí há a vertente negativa de praticamente não haver remuneração“, disse à Lusa João Queirós, do Banco Carregosa.

A taxa Euribor a seis meses, a mais utilizada em Portugal nos créditos à habitação, desceu esta quarta-feira para 0%, um novo mínimo histórico, o que terá impacto na redução da prestação da casa.

Também as outras taxas estão em valores mínimos: a Euribor a três meses, em terreno negativo desde 21 de abril, fixou-se em -0,069%, a taxa a nove meses caiu para 0,040% e a Euribor a 12 meses para 0,101%.

Para Pedro Ricardo Santos, gestor da corretora online XTB, a “evolução recente da taxa Euribor revela a pressão exercida por parte do Banco Central Europeu [BCE] na investida contra a deflação na zona euro”, pelo que no futuro próximo a tendência deverá manter-se, até tendo em conta o sinal dado pelo presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi.

“A aguardada decisão de aumento dos estímulos por parte do regulador europeu poderá levar o indicador a valores negativos. Até que exista uma alteração à atual política monetária, os movimentos deverão ser continuamente descendentes”, antecipou.

Assim, explicou o gestor da XTB, as quedas irão beneficiar as famílias e empresas que pedem dinheiro emprestado, já que “a redução do encargo mensal com amortização de capital e juros acaba por gerar mais rendimento disponível”.

Já da perspetiva do aforrador, “a remuneração dos depósitos a prazo torna este tipo de produto menos atrativo”, pelo que quem quiser ganhar mais tem de arriscar e apostar em produtos como ações.

Para Filipe Garcia, da IMF – Informação de Mercados Financeiros, o movimento a que estamos a assistir de descida das taxas Euribor é importante “sobretudo simbolicamente”, uma vez que são movimentos pequenos, mesmo de milésimas, enquanto noutras alturas foram bem mais substanciais.

O economista prevê que, em todas as maturidades, as Euribor se aproximem do valor da taxa de depósitos do BCE, que está em 0,2% negativos e quando há expectativa que ainda desça mais, para -0,3%.

Sobre os efeitos mais genéricos, Filipe Garcia considerou que estes movimentos nas Euribor refletem que a economia não está a conseguir gerar inflação, havendo alguma quebra da relação que a história económica foi estabelecendo entre crescimento e inflação. E isto apesar dos estímulos monetários que os bancos centrais têm levado a cabo.

“Estamos numa situação estrutural de inflação baixa. Não tem a ver só a ver com a zona euro, acontece também nos Estados Unidos, no Reino Unido, no Japão e até Polónia”, disse Filipe Garcia, relacionando, entre outros fatores, com salários que estão relativamente congelados nos países desenvolvidos e nos preços das matérias-primas mais baixos, sobretudo os preços da energia.

As Euribor são fixadas pela média das taxas às quais um conjunto de bancos da zona euro está disposto a emprestar dinheiro entre si no mercado interbancário.

Os bancos dão a indicação do valor a que emprestariam o dinheiro em determinados prazos e é esse valor que é divulgado diariamente. Em Portugal, apenas a Caixa Geral de Depósitos faz parte do painel.

O European Money Markets Institute, que gere o painel Euribor, tem um plano para reformar a formação das Euribor, sendo que umas das alterações passa por ancorar o valor das Euribor em “transações reais, em vez de estimativas, a fim de melhorar a transparência e reduzir os riscos de manipulação”, segundo um documento da EMMI divulgado a semana passada, a que a Lusa teve acesso.

/Lusa

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