Os cientistas notaram uma estabilização em sintomas como delírios e ansiedade nos pacientes com demência associada à Parkinson que tomaram ambroxol, um medicamento presente nos xaropes para a tosse.
Um ingrediente comum em xaropes para a tosse vendidos na Europa pode ser uma arma secreta para doentes com demência associada à doença de Parkinson, de acordo com um promissor ensaio clínico publicado na JAMA Neurology. O medicamento, ambroxol, é utilizado desde 1979 no tratamento de doenças respiratórias, mas ainda não está aprovado nos Estados Unidos, Canadá ou Austrália.
Num ensaio clínico de fase 2, liderado pelo neurologista Stephen Pasternak, da Western University no Canadá, os investigadores testaram os efeitos do ambroxol em 47 pacientes com demência associada à doença de Parkinson ao longo de um ano.
Os 22 participantes que receberam doses elevadas de ambroxol apresentaram uma estabilização de sintomas neuropsiquiátricos importantes, como delírios, alucinações, ansiedade, apatia e atividade motora anormal. Em contraste, os 25 pacientes que receberam placebo registaram um agravamento significativo dos sintomas, refere o Science Alert.
Os pacientes que tomaram placebo pioraram em média 3,73 pontos numa escala neuropsiquiátrica standard, enquanto os que tomaram ambroxol melhoraram 2,45 pontos. Apesar de não se terem verificado melhorias significativas nas funções cognitivas, como memória ou linguagem, em nenhum dos grupos, os que tomaram ambroxol relataram menos quedas e melhor controlo dos sintomas no dia a dia.
“O ambroxol pode proteger a função cerebral, especialmente em pessoas com risco genético”, afirmou Pasternak. “É uma via terapêutica promissora numa área onde existem poucas opções.”
Um aspeto de interesse crescente envolve os doentes com variantes do gene GBA1, associado a uma menor atividade da enzima glucocerebrosidase (GCase) e ao aumento da acumulação de proteínas tóxicas no cérebro. Estes aglomerados, conhecidos como corpos de Lewy, estão fortemente ligados à demência de Parkinson.
No ensaio, verificou-se que o ambroxol aumentou a atividade da GCase em 1,5 vezes, com especial benefício para os pacientes com mutações no gene GBA1. Embora estes resultados ainda sejam preliminares, devido ao reduzido número de participantes, sugerem um potencial para abordagens de medicina personalizada.
Alguns participantes sofreram efeitos gastrointestinais ligeiros, o que levou a algumas desistências, mas não foram registados efeitos adversos graves.
Para além da doença de Parkinson, os cientistas estão otimistas quanto ao potencial do ambroxol no tratamento de outras doenças neurodegenerativas, como a esclerose lateral amiotrófica (ELA), a doença de Gaucher ou até lesões da medula espinal, graças à sua capacidade de atravessar a barreira hematoencefálica.