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Vírus que mata bebés ajuda a criar novos tratamentos contra o cancro

O Citomegalovírus (CMV) é um dos vírus mais frequentes na espécie humana e, apesar de pode causar vários tipos de problemas de saúde, a investigação sobre o vírus está a ajudar-nos a aproveitar o poder do nosso sistema imunitário para tratar certos tipos de cancro.

O CMV é transmitido através de fluidos corporais como urina, sangue, saliva e leite materno. Estima-se também que a cada ano um ou dois bebés em cada 200 nasçam com CMV. Até 20% dos bebés que estão infetados no útero morrem, e estima-se que cause até 12% de todas as perdas auditivas neurossensoriais e 10% dos casos de paralisia cerebral em recém-nascidos.

Se uma mãe é infetada pela primeira vez enquanto está grávida, o risco de aborto, morte fetal e hidrópsia fetal — uma condição séria que resulta no acumulo anormal de líquido no feto — também aumentam.

A infeção representa um grande risco para crianças e adultos. É uma causa comum de morte e doença em pessoas que sofrem de SIDA, para pessoas que fizeram um transplante de órgãos e medula óssea e também para aqueles que estão a ser tratados com quimioterapia para o cancro.

Controlo imunológico e cancro

Se pode causar problemas tão sérios, porquê que muitas pessoas não ouviram falar do CMV? Para a maioria de nós não representa um problema. Se o sistema imunológico estiver totalmente desenvolvido e funcionar bem, o corpo pode manter o vírus sob controlo. Isto explica por que razão o CMV pode causar defeitos congénitos, uma vez que fetos e recém-nascidos não têm um sistema imunológico totalmente funcional.

Em pessoas que têm sistemas imunológicos totalmente funcionais, a replicação viral do CMV é controlada. No entanto, o vírus infeta seres humanos há 180 milhões de anos e, durante esse tempo, desenvolveu muitos mecanismos que permitem escapar ou, mais propriamente, “modular” o sistema imunológico.

Isto significa que o corpo não é capaz de erradicar completamente a infeção do CMV. Na maioria dos casos, o Citomegalovírus só provoca doenças em indivíduos infetados se o sistema imunológico estiver comprometido.

Desde 1954, quando o CMV foi pela primeira vez isolado, investigadores têm estudado o vírus e como o sistema imunitário responde. Chegaram à conclusão que um tipo de célula imunológica é importante para o controlo da infeção: as células exterminadoras naturais. Estudos passados mostram que pessoas com falta destas células frequentemente contraem doenças derivadas do CMV.

Atualmente, os cientistas conhecem 16 genes do CMV que modulam as células exterminadoras naturais e esse conhecimento está a ajudar os cientistas a entender como é que as células sanguíneas funcionam. A investigação foi publicada no ano passado na revista Frontiers in Immunology.

A capacidade destas células de erradicar as células tumorais levou os cientistas a investigar a sua eficácia clínica para imunoterapia. Agora, novos tratamentos estão a ser desenvolvidos, que esperam usar as habilidades anti-tumorais das células exterminadoras naturais para tratar cancros, como a Leucemia Mielóide Aguda (LMA).

Enquanto atualmente não há cura ou vacina para o CMV, não pode ser negado que ajudou investigadores a desenvolverem novas abordagens para tratamentos imunológicos. Este vírus pode ser a chave para desbloquear o poder do sistema imunitário e tratar vários tipos de doenças.

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