Bacteriófago pode vir a oferecer novas abordagens para o tratamento de doenças e infeções bacterianas. Detetado a 8900 metros na fossa mais profunda do mundo, nunca um vírus tinha sido descoberto a tal profundidade oceânica.
Uma equipa de investigadores da Universidade Oceânica da China descobriu um vírus previamente desconhecido, denominado vB_HmeY_H4907, a partir de amostras de sedimentos recolhidas a uma profundidade de mais de 8.900 metros na Fossa das Marianas, a mais profunda formação geológica submarina conhecida, situada no Oceano Pacífico Ocidental que, com cerca de 10.984 metros, na Depressão Challenger, contém o ponto mais profundo dos oceanos.
A descoberta abre novas portas para o entendimento de como os vírus se adaptam a ambientes hostis e pode vir a contribuir para o nosso conhecimento — ainda considerado limitado — sobre a biodiversidade microbiana global.
Liderada pelo virologista marinho Min Wang, a equipa é especializada no estudo de ambientes extremos como potenciais focos de novos vírus. “Ambientes extremos são ideais para encontrar novos vírus”, disse Wang, de acordo com o El Confidencial.
The scientific team of Qingdao China Ocean University discovered a new virus in Mariana Trench. pic.twitter.com/fLETtPVZXb
— alang (@alang73723150) September 21, 2023
O vírus agora encontrado é um bacteriófago, isto é, alimenta-se de bactérias, mais especificamente da família Halomonas, que só sobrevivem em água salgada. Os investigadores sugerem que é altamente provável que este vírus possa ser encontrado noutras localizações do fundo do mar em todo o mundo.
vB_HmeY_H4907 é amigo da Humanidade
Ao contrário dos vírus que representam riscos para os seres humanos, o vB_HmeY_H4907 é inofensivo para as pessoas. Pertence a uma classe de organismos lisogénicos, o que significa que se replica dentro da bactéria que invade, mas não mata o hospedeiro.
Os investigadores conseguiram isolar e reconstruir o vírus usando técnicas metagenómicas. Segundo Wang, nunca antes um vírus tinha sido descoberto a tal profundidade oceânica, com residência próxima de fontes hidrotermais.
O estudo, publicado na revista Microbiology Spectrum, oferece valiosas perspetivas sobre a evolução viral e poderá fornecer pistas importantes sobre como os vírus evoluem para prosperar em ambientes inicialmente hostis. A humanidade ainda tem por descobrir praticamente 99% da biodiversidade microbiana existente no planeta.
“Entender como os vírus se adaptam a condições tão extremas poderá abrir portas para avanços científicos significativos”, disse Wang. “A descoberta poderá, por exemplo, oferecer novas abordagens para o tratamento de doenças e infeções bacterianas, ou até aplicações biotecnológicas”, reforçou.
Os investigadores sublinham, no entanto, a necessidade de estudos adicionais sobre a vida microbiana em ambientes extremos como a maravilhosa Fossa das Marianas, já que estes microrganismos podem conter as respostas para várias questões fundamentais sobre a vida e a evolução.
Devido à sua profundidade extrema, a Fossa das Marianas permanece em grande parte inexplorada. As condições extremas, como alta pressão e baixas temperaturas, tornam a investigação científica muito desafiante.
Contudo, as expedições realizadas revelaram uma biodiversidade surpreendente, incluindo várias espécies ainda não descritas pela ciência.
A investigação na fossa é vital para compreender melhor a geologia da Terra e a biologia dos ecossistemas profundos. Além disso, a área tem importância para o estudo das alterações climáticas, uma vez que os sedimentos acumulados podem conter informações sobre a história climática da Terra.