Vegetais também se defendem dos predadores – através do picante

Quando ingerimos uma substância picante, o nosso organismo reage em modo defesa, desencadeando reações para conter essa “ameaça externa”. Segundo uma especialista, esse mesmo picante é a forma que alguns vegetais criaram para se defender, também eles, das ameaças externas: os predadores humanos.

De acordo com Federica Genovese, neurocientista e investigadora no Monell Chemical Senses Center em Filadélfia, nos Estados Unidos (EUA), quando se fala em olfato e paladar, é preciso ter em conta outro sentido, denominado chemesthesis.

A chemesthesis é a sensibilidade da pele e das membranas mucosas, as reações desencadeadas quando compostos químicos ativam recetores de outros sentidos, relacionados com a dor, o tato e a perceção térmica. A chemesthesis, disse, é responsável por determinar a reação das pessoas a diferentes químicos picantes.

Ao Inverse, a cientista explicou que o químico responsável por essa sensação de picante nas asas de frango, por exemplo, é a capsaicina, que se pode encontrar naturalmente nos pimentos. Ao ingerir a substância, esta “engana” o cérebro, levando-o a pensar que comeu algo simultaneamente quente e doloroso.

Ora, quando se ingere um produto que contenha capsaicina, esta se conecta aos TRPV1, recetores presentes na língua que detetam substâncias dolorosas e quentes. Esses enviam um sinal ao cérebro, dando a indicação que teve contacto com algo que estava a arder, mesmo que tal não tenha sucedido.

O corpo responde e começa a suar. Podem ocorrer outros sintomas, como tosse, espirros e lágrimas. “Suar é, literalmente, lavar o que quer que tenha estado em contacto com a boca e a pele”, indicou Genovese. Embora o corpo não esteja em perigo, responde como se estivesse e essa reação é o que pode ser prejudicial.

O sistema nervoso, que está apenas a tentar ajudar, começa a reagir de forma exagerada. Os reflexos ficam descontrolados, visto que o objetivo do corpo é expulsar a ameaça o mais rapidamente possível, abrindo todas as vias de fuga.

Contudo, apesar das reações que origina, Genovese não define a capsaicina como uma toxina. Para a especialista, o mais interessante é que as reações humanas a esse químico é a razão pela qual as plantas o desenvolveram – é o mecanismo de defesa perfeito contra os predadores.

“A capsaicina é libertada, principalmente, a partir das sementes. É necessário partir a semente para libertar a maior parte da capsaicina. Caso se comam as sementes, então já não estarão disponíveis para criar novas plantas”, explicou.

No entanto, apesar de não ser considerada uma toxina, a capsaicina pode desencadear reações muitos fortes, como ataques cardíacos. Criar tolerância a esse químico é a melhor forma de treinar o corpo para reagir a sua ingestão. Assim, o organismo vai aprendendo que a capsaicina não é algo de que necessite “ter medo”.

ZAP //

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