O dia 9 de julho foi invulgarmente curto graças às alterações na velocidade de rotação da Terra. Mas os dias mais rápidos do ano ainda estão por vir. Prevê-se que dois outros dias deste verão sejam ainda mais curtos do que a última quarta-feira.
A última quarta-feira (9 de julho) foi um dia invulgarmente curto, com menos 1,3 milissegundos do que a média. Nesse dia, a Terra rodou mais depressa sobre o seu eixo.
Nós, em princípio, não sentimos. Para a maioria de nós, a perda de um ou dois milissegundos passa totalmente despercebida.
No entanto, os computadores, o GPS, os sistemas bancários, os grandes telescópios e as redes elétricas dependem de uma sincronização incrivelmente precisa para funcionar. Para estes sistemas, cada milissegundo conta.
Segundo os cientistas, dias ainda mais curtos ainda estão para vir, este ano. De acordo com o timeanddate.com, perspetiva-se que 22 de julho e 5 de agosto percam 1,38 e 1,52 milissegundos, respetivamente.
Mas, afinal, porque é que alguns dias estão a ficar mais curtos este verão e como é que isso nos vai afetar?
Os dias na Terra estão a ficar mais curtos?
Nos últimos dois mil milhões de anos, a rotação da Terra tem vindo a abrandar, o que fez com que os nossos dias se tornassem mais longos.
Por exemplo, investigadores em 2023 descobriram que, entre cerca de mil milhões e 2 mil milhões de anos atrás, um dia na Terra tinha apenas 19 horas de duração.
Os cientistas pensam que este facto se deve, em grande parte, ao afastamento gradual da lua do nosso planeta, o que fez com que a força gravitacional da lua se tornasse mais fraca ao longo do tempo e fez com que a Terra girasse mais lentamente sobre o seu eixo.
No entanto, desde 2020, os cientistas notaram que a Terra começou a girar um pouco mais depressa.
“Temos agora dias ligeiramente mais curtos do que nos últimos 50 anos”, disse, à Live Science, Dirk Piester, chefe do Grupo de Disseminação do Tempo 4.42 do Physikalisch-Technische Bundesanstalt (PTB), o instituto nacional de meteorologia da Alemanha.
Porque é que a Terra está a girar mais depressa?
Um dia na Terra dura cerca de 86.400 segundos. Ou seja, 24 horas – o tempo que o planeta demora a rodar completamente sobre o seu eixo.
Mas a velocidade desta rotação depende de muitos fatores, incluindo as posições do Sol e da Lua e o campo gravitacional da Terra.
Nos dias 9 de julho, 22 de julho e 5 de agosto de 2025, por exemplo, a Lua estará no seu ponto mais afastado do equador – o que altera o impacto da sua atração gravitacional na rotação da Terra.
A perda de 1,5 milissegundos afeta a vida na Terra?
Sim. Como explica, ao The Guardian, David Gozzard, investigador da Universidade da Austrália Ocidental, especialista em medições de precisão e comunicações laser por satélite, “estamos a transmitir dados muito rapidamente e todos eles têm de ser marcados no tempo, para que os computadores saibam que dados vão para onde”.
Essas medições precisas são sincronizadas com um tempo de referência global chamado Tempo Universal Coordenado (UTC).
“O UTC é uma referência mundial baseada em mais de 400 relógios atómicos que são operados nos cerca de 80 institutos de cronometragem que contribuem para o cálculo do UTC”, explicou à Dirk Piester.
“Segundo bissexto” – já ouviu falar?
As variações da rotação da Terra anulam-se frequentemente umas às outras ou são demasiado pequenas para serem notadas. Mas, ao longo do tempo, um milissegundo aqui e um milissegundo ali podem somar-se.
Quando isto acontece, explica a Live Science, os cronometristas globais do Serviço Internacional de Rotação da Terra e Sistemas de Referência (IERS) acrescentam um “segundo bissexto”.
Se houver um desvio constante da duração do dia em relação ao UTC, é aplicado um segundo intercalado no UTC.
No entanto, em 2022, os cientistas votaram a favor da abolição temporária do segundo bissexto (até 2035), devido às perturbações que causam aos sistemas que dependem da precisão da cronometragem.