Um novo estudo fornece uma explicação plausível para a finalidade de um misterioso artefacto da Idade do Gelo, que anteriormente se especulava que poderia ter sido usado como uma “varinha mágica” ou um símbolo de poder do oculto.
Descoberto na caverna de Hohle Fels, no sudoeste da Alemanha, o artefacto, feito de marfim de mamute e datado de há 40.000 anos atrás, intriga cientistas há décadas.
Os arqueólogos consideraram inicialmente que se trataria de uma “varinha mágica” para uso em rituais religiosos, um cetro ou até mesmo um instrumento musical devido à sua forma pontiaguda e buracos perfurados.
Mas a verdadeira função do artefacto acaba agora de ser finalmente revelada, após um estudo conduzido por Nicholas Conard, investigador da Universidade de Tübingen, na Alemanha, e Veerle Rots, da Universidade de Liège, na Bélgica.
Segundo os autores do estudo, publicado no fim de janeiro na revista Science Advances, o artefacto não era um instrumento de feitiçaria — seria na realidade uma ferramenta prática para fazer cordas — um objeto essencial na vida dos humanos do Paleolítico.
Dada a natureza perecível de materiais como fibras de plantas, as evidências para o fabrico de cordas na era Paleolítica têm sido escassas.
No entanto, o estado bem preservado deste artefacto, juntamente com fibras de plantas encontradas no local, apoiou a hipótese de que seria uma ferramenta para a criação de cordas.
A importância da corda na Idade da Pedra, para tarefas que vão desde a segurança de armas até a confeção de roupas, implica a existência de tecnologia para produzi-la eficientemente.
Para validar a sua hipótese, Conard e Rots criaram uma réplica do artefacto e realizaram experiências com vários materiais, incluindo tendões de veado, cânhamo, linho e urtigas.
Os investigadores descobriram que as fibras de junco, tília e salgueiro produziram os melhores resultados, possibilitando a criação de cordas duráveis e flexíveis.
Através dos seus testes, os investigadores demonstraram que o artefacto poderia realmente facilitar a criação de cordões mais grossos, aumentando a eficiência da produção das cordas paleolíticas.
Embora replicar o uso do artefacto não prove conclusivamente o seu propósito original, a combinação de análise microscópica das ranhuras do artefacto e a presença de fibras de plantas no local fornecem evidências convincentes que suportam a teoria da fabricação de cordas.
“Esta ferramenta responde a uma questão que intrigava os cientistas há décadas: como é que se faziam cordas no Paleolítico“, explica Veerle Rots, citado pelo Science Alert.
Dois mistérios resolvidos com um só estudo?