Vacina nasal contra a covid-19 interrompe a transmissão da doença

Marco Verch / Flickr

Vacina Pfizer anti-covid

Um estudo realizado em hamsters revelou, recentemente, que vacinas direcionadas ao nariz e à boca podem ser a chave para controlar a disseminação de infeções respiratórias.

O rápido desenvolvimento de vacinas contra a covid-19 salvou milhões de vidas. No entanto, apesar de terem diminuído o número de mortes, não conseguiram pôr um ponto final na epidemia por não impedirem a propagação do vírus.

Uma nova investigação, realizada por cientistas da Escola de Medicina da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, revelou que as vacinas da próxima geração, cujos pontos de entrada são o nariz e a boca, podem ser capazes de fazer o que as vacinas tradicionais não conseguem: conter a propagação de infeções respiratórias e prevenir a transmissão.

Em laboratório, a equipa comprovou que hamsters com covid-19, vacinados com uma vacina nasal, não transmitiram o vírus a outros animais, interrompendo o ciclo de transmissão. Já uma vacina injetável não conseguiu impedir a propagação do vírus.

“Para evitar a transmissão, precisamos de manter a quantidade de vírus nas vias aéreas superiores baixa”, explicou o investigador Jacco Boon, em comunicado da Universidade de Washington.

“Quanto menos vírus houver, menor a probabilidade de infetarmos outra pessoa se tossirmos ou espirrarmos, por exemplo. Este estudo mostra que as vacinas de mucosa são superiores às vacinas injetáveis a limitar a replicação viral nas vias aéreas superiores e a prevenir a disseminação”, acrescentou.

Para este estudo, Boon e a sua equipa desenvolveram e validaram um modelo de transmissão comunitária usando hamsters e usaram-no para avaliar o efeito da vacinação da mucosa na disseminação do SARS-CoV-2.

Ao contrário dos ratos, os hamsters são naturalmente suscetíveis à infeção por covid-19, uma característica que faz deles os animais de laboratório ideais para um estudo de transmissão.

Em laboratório, dividiram os animais em três grupos: o primeiro foi imunizado com a vacina nasal iNCOVACC, usada na Índia; o segundo com a vacina injetada da Pfizer; e o terceiro grupo serviu de controlo, não tendo sido vacinado.

Depois de dar aos hamsters vacinados algumas semanas para que as suas respostas imunológicas amadurecessem totalmente, os investigadores infetaram outros hamsters com SARS-CoV-2 e colocaram os animais imunizados com os infetados durante oito horas.

Depois desse período, a maioria dos animais vacinados foi infetada. O vírus foi encontrado no nariz e nos pulmões de 12 dos 14 hamsters (86%) que receberam a vacina nasal e em 15 dos 16 hamsters  (94%) que receberam a vacina injetada.

Contudo, apesar de a grande maioria dos animais de ambos os grupos ter sido infetada, os hamsters não foram infetados no mesmo grau.

Os animais imunizados por via nasal apresentavam níveis de vírus nas vias aéreas 100 a 100.000 vezes inferiores do que aqueles que receberam a injeção ou não foram vacinados.

Este estudo não avaliou a saúde dos animais, mas estudos anteriores mostraram que ambas as vacinas reduzem a probabilidade de doença grave e morte por covid-19.

A segunda etapa da experiência produziu resultados ainda mais impressionantes. Os cientistas juntaram hamsters vacinados que posteriormente desenvolveram infeções com hamsters saudáveis vacinados e não vacinados durante oito horas para modelar a transmissão do vírus de uma pessoa vacinada para outras.

Curiosamente, nenhum dos animais expostos a hamsters vacinados nasalmente foi infetado, independentemente de o hamster recetor ter sido vacinado ou não.

Por contraste, cerca de metade dos hamsters que foram expostos a hamsters vacinados por injeção foram infetados. Por outras palavras, a vacinação nasal quebrou o ciclo de transmissão.

Os resultados do estudo foram publicados, no final de julho, na Science Advances.

ZAP //

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