União Europeia “a salvo” no inverno

Stephanie Lecocq/EPA

Ursula von der Leyen

“Chantagem da Rússia falhou”, assegura Ursula von der Leyen. “Chegou a altura de avançarmos para as compras conjuntas de gás” na Europa.

A presidente da Comissão Europeia garantiu hoje que a União Europeia (UE) está “a salvo” este inverno no fornecimento energético, após a “chantagem da Rússia ter falhado”, mas pediu investimentos em energia limpa, financiados por novo fundo soberano.

“O resultado de todas as ações [apresentadas pela Comissão Europeia] é que estamos a salvo para este inverno e que a chantagem da Rússia falhou. No entanto, algumas das nossas propostas ainda estão em discussão e são essenciais […] porque a preparação para o próximo inverno de 2023-2024 começa agora”, declarou Ursula von der Leyen, em conferência de imprensa, em Bruxelas.

Falando ao lado do diretor executivo da Agência Internacional de Energia, Fatih Birol, no dia em que é apresentado um relatório com perspetivas para o fornecimento de gás da UE em 2023, a líder do executivo comunitário apontou que, “a médio prazo, é necessário acelerar” investimentos em energia limpa, gerada sem a emissão de poluentes, como a solar, eólica e hídrica, por exemplo.

Dados do executivo comunitário revelam que, apesar das medidas para enfrentar a atual crise energética, a UE ainda poderá ter uma diferença de até 30 mil milhões de metros cúbicos de gás no inverno do próximo ano, razão pela qual tenta diversificar já o seu cabaz energético.

“Trabalharemos na criação de um fundo soberano para assegurar que a Europa continua a ser líder mundial em tecnologias limpas”, anunciou Ursula von der Leyen.

A responsável salientou que a UE deve “ajudar a indústria neste ambiente de elevados preços de energia para fazer a transição para uma energia limpa e ‘verde’, que seja acessível e segura”.

“Por conseguinte, este financiamento é necessário. O nosso trabalho tem sido bom este ano e vemos o que já alcançámos, mas sabemos que não terminámos o nosso trabalho até que as famílias e empresas da União Europeia tenham acesso a energia que seja acessível, que seja segura”, reforçou a presidente da Comissão Europeia.

Em 2022, a UE registou melhores condições para a produção de energia eólica e solar, esperando Bruxelas que o mesmo aconteça no próximo ano, permitindo substituir cerca de 12 mil milhões de metros cúbicos de gás por fontes renováveis.

Ursula von der Leyen admitiu uma “revisão intercalar do orçamento” comunitário de 2023 para “abrir a porta à criação de um fundo soberano”, que, de acordo com a responsável, “certamente não seria apenas alimentado pelos fundos europeus existentes e em vigor, mas teria também de ser aumentado por outras fontes” a médio prazo.

“Com as políticas corretas em vigor, podemos até duplicar a capacidade de energia renovável que adicionamos ao mercado no próximo ano”, concluiu a líder do executivo comunitário.

A presidente da Comissão Europeia instou hoje os Estados-membros a darem ‘luz verde’ às compras conjuntas de gás na União Europeia (UE), salientando ter chegado “a altura” de tornar esta “uma realidade”, dadas as perturbações no fornecimento russo.

“Chegou a altura de tornarmos as compras conjuntas de gás uma realidade. Temos a plataforma de energia em funcionamento e temos de a operacionalizar agora porque cada dia de atraso na implementação do mecanismo de compra conjunta acarreta um preço”, salientou.

As tensões geopolíticas devido à guerra na Ucrânia têm afetado o mercado energético europeu porque a UE ainda depende dos combustíveis fósseis russos como o gás (apesar de ter reduzido as importações por gasoduto de 40% para menos de 10%), temendo cortes e perturbações no fornecimento este inverno.

O abastecimento de gás russo por gasodutos à UE caiu 80% em setembro deste ano em comparação com o mesmo período do ano passado.

Caso de corrupção é muito grave

A presidente da Comissão Europeia admitiu hoje que as alegações de corrupção contra a vice-presidente do Parlamento Europeu Eva Kaili são “muito graves” e defendeu a criação de um órgão independente de ética aplicável a todas as instituições europeias.

“As alegações contra a vice-presidente do Parlamento Europeu suscitam a maior preocupação, são muito graves. Está em causa a confiança das pessoas nas nossas instituições. E esta confiança nas nossas instituições exige elevados padrões de independência e integridade”, começou por declarar Ursula Von der Leyen, quando questionada sobre o assunto durante uma conferência de imprensa na sede da Comissão, em Bruxelas.

Lembrando que “há regras muito claras para todos os comissários” e que o executivo comunitário já tem o seu código de conduta e publica de forma transparente o registo de reuniões de membros do colégio com representantes de interesses, Von der Leyen recordou que, em março passado, já propôs “a criação de um órgão de ética independente que abranja todas as instituições da União Europeia (UE)”, a ser estabelecido “com os mais elevados padrões”.

“Escrevi uma carta em março dirigida não só ao Conselho e ao Parlamento Europeu, mas também, por exemplo, ao Tribunal de Justiça Europeu, ao Banco Central Europeu, ao Tribunal de Contas, a todas as instituições. Para nós, é fundamental que tenhamos não só regras fortes, mas também as mesmas regras que cubram todas as instituições europeias, e que não permita qualquer tipo de exceções”, declarou a presidente do executivo comunitário.

É uma questão de transparência, de regras muito claras, e todas as instituições europeias devem obedecer às mesmas regras que estabelecermos”, frisou.

// Lusa

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