Uma ilha para a paz em Gaza? São “ideias líricas” de Israel

António Cotrim / Lusa

O ministro da Defesa Nacional, João Gomes Cravinho

Plano do ministro dos Negócios Estrangeiros de Israel para a criação de uma ilha que permitiria “criar uma plataforma logística para a paz que alimentaria tanto Israel como Gaza” é completamente irrelevante, aponta Cravinho.

O ministro português dos Negócios Estrangeiros rejeitou esta terça-feira as “ideias líricas” para a paz em Gaza apresentadas pelo seu homólogo israelita, que a seu ver não “estava preparado” para dialogar, assentes numa ilha que serviria como “plataforma logística”.

“Aquilo que o ministro israelita [dos Negócios Estrangeiros, Israel Katz] nos apresentou foi um plano — que não é de transferência da população de Gaza —, para a criação de uma ilha que permitiria, a três ou quatro quilómetros da costa de Gaza, criar uma plataforma logística para a paz, uma plataforma logística que alimentaria tanto Israel como Gaza”, declarou João Gomes Cravinho.

Falando à imprensa portuguesa em Bruxelas no dia em que os ministros dos Negócios Estrangeiros palestiniano e israelita foram recebidos pessoalmente pelos homólogos europeus, o chefe da diplomacia portuguesa indicou ter dito ao ministro israelita, à semelhança de outros governantes comunitários, que “não vale a pena trazer ideias líricas sobre o futuro de paz e harmonia se não houver disponibilidade no imediato [de Telavive] para trabalhar para o reconhecimento dos direitos palestinianos, que estavam inteiramente ausentes” do plano apresentado.

São ideias que neste momento são completamente irrelevantes se não tiverem em conta o contexto e o reconhecimento do Estado da Palestina e dos direitos dos palestinianos”, reforçou Cravinho, para quem “não há possibilidade nenhuma” de tal plano avançar.

“Isso foi dito de diversas maneiras. De formas mais diplomáticas, de formas menos diplomáticas, toda a gente reconheceu isso à volta da mesa e talvez até tenha havido alguma frustração por estarmos a perder tempo com ideias que não são adequadas ao tempo de urgência que vivemos em relação aos comentários recentes”, adiantou o governante.

Para o ministro português da tutela, Israel Katz “não estava em condições” de dialogar com os homólogos europeus.

“Talvez por ser a primeira vez que trabalha com a União Europeia, não nos pareceu preparado para responder a questões fundamentais, como sejam a que como se pode avançar para a solução de dois Estados e como é que se pode parar com a violência dos colonos na Cisjordânia”, elencou.

Netanyahu é “contra a paz”

João Gomes Cravinho lamentou ainda “profundamente” os recentes comentários do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, contra uma solução de dois Estados.

“Dizer que é contra significa, muito francamente, dizer que é contra a paz e, por isso, eu disse ao meu colega israelita que a nossa expectativa é que o primeiro-ministro israelita reveja a sua posição e que seja que tenha uma abordagem construtiva em relação à paz e não uma abordagem de bloqueio”, adiantou.

De acordo com João Gomes Cravinho, decorre um “debate muito avançado” sobre sanções aos colonos na Cisjordânia, relativamente ao qual “dois países mostraram relutância”, nomeadamente Hungria e Áustria.

Já questionado se ainda existe algum cidadão português em Gaza, o ministro falou numa “senhora que tem nacionalidade portuguesa que não quis sair porque o marido não tem autorização para sair, […] portanto está lá por opção própria”.

No dia em que os chefes da diplomacia europeia se reuniram em Bruxelas, o chefe da diplomacia israelita, Israel Katz, foi recebido de manhã em Bruxelas, enquanto à tarde foi a vez do seu homólogo palestiniano, Riyad al-Maliki.

Também esta segunda-feira, ocorreram reuniões entre os 27 chefes da diplomacia da UE com outros governantes da região durante o almoço, como com os ministros da tutela egípcio, Sameh Shoukry, o saudita, Faisal bin Farhane, e o jordano, Ayman Safadi, bem como com o secretário-geral da Liga Árabe, Ahmed Aboul Gheit.

ZAP // Lusa

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