Uma explosão de lava 25 vezes maior que Portugal pode ter provocado a “Terra bola de neve”

Gigantescas erupções vulcânicas ocorridas há 717 milhões de anos no norte do Canadá podem ter despoletado o congelamento do mundo, que assim permaneceu durante 57 milhões de anos.

Durante vastas eras de gelo há milhões de anos, a Terra esteve coberta em gelo, tendo passado por três ou quatro períodos de glaciação — cada um deles durou aproximadamente 10 milhões de anos. Os investigadores estimam que, durante estes períodos, a temperatura global tenha diminuído em média até -50ºC. Tudo aconteceu entre 750 milhões e 580 milhões anos atrás.

Agora, cientistas acreditam que gigantescas erupções vulcânicas ocorridas há 717 milhões de anos podem ter despoletado o congelamento global do nosso mundo, conhecido como “Terra Bola de Neve”.

O estudo, publicado na Earth and Planetary Science Letters, sugere que estas erupções libertaram enormes quantidades de lava e deram início a reações químicas que “roubaram” dióxido de carbono (CO2) da atmosfera, desencadeando uma era glacial que acabaria por durar 57 milhões de anos.

As erupções, segundo o Live Science, terão acontecido na região correspondente ao atual norte do Canadá e deram origem a um planalto vulcânico que se estenderia por uns surpreendentes 2,23 milhões de quilómetros quadrados — quase 25 vezes maior do que o tamanho de Portugal.

A chuva ácida resultante da atividade vulcânica terá dado asas a um processo conhecido como meteorização nas rochas frescas de lava, algo que, segundo os investigadores, terá levado ao congelamento global.

Neethis / Wikimedia

O degelo da Terra Bola de Neve libertou os nutrientes que provocaram a explosão das algas – e o aparecimento dos animais

A atividade vulcânica pode provocar arrefecimento global de duas formas: através da libertação de partículas ricas em enxofre que bloqueiam a luz solar — provocando descidas de temperatura — ou através da meteorização, uma reação química na qual a água da chuva interage com os minerais nas rochas, criando novos minerais e prendendo o CO2, gás com efeito de estufa que acabaria por arrefecer o planeta.

Para perceber que processo levou à glaciação, a equipa de investigação analisou cristais provenientes da Grande Província Ígnea de Franklin (LIP) — a área em que as erupções aconteceram. A análise sugeriu que as erupções ocorreram entre 1 e 2 milhões de anos antes da glaciação, indicando que a meteorização química foi mesmo a principal causa do congelamento global.

Numa altura em que os continentes da Terra faziam todos parte da Rodínia, supercontinente que sofreu intensas precipitações, levando ao aprisionamento adicional de CO2, o aumento da meteorização noutras partes do mundo pode ter contribuído para este efeito.

Alguns especialistas acreditam que esta teoria pode não ser válida, reforçando que o timing da glaciação, ainda incerto, pode não coincidir com o recém-proposto timing das erupções.

Tomás Guimarães, ZAP //

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