Apenas uma em cada 500 pessoas, em média, foi vacinada contra a covid-19 nos países pobres, enquanto nos ricos uma em cada quatro já está parcial ou totalmente imunizada, revelou esta segunda-feira a Organização Mundial de Saúde (OMS), após anunciar que a jovem ativista climática Greta Thunberg doou 100 mil euros para apoiar a organização na distribuição equitativa de vacinas.
A contribuição será feita através da fundação de Thunberg, a ativista sueca que, em 2018, aos 15 anos, lançou um movimento de dimensão global de protesto e denúncia da inação da classe política e dos atores económicos face ao agravamento dos efeitos das alterações climáticas.
Os 100 mil euros irão para a plataforma Covax, criada pela OMS e outras instituições para financiar a compra de vacinas e a sua distribuição entre países de baixo e médio rendimento. O objetivo é vacinar pelo menos os grupos de maior risco nestes países, tais como os trabalhadores da saúde, os idosos e os que sofrem de doenças crónicas, o que os torna particularmente vulneráveis à infeção que pode ser causada pelo novo coronavírus.
No entanto, as vacinas continuam concentradas em cerca de uma dúzia de países. As 39 milhões de doses que a Covax distribuiu desde fevereiro a 114 países contrastam com os quase 210 milhões de doses que já foram administradas só nos Estados Unidos da América (EUA) e com os 42,8 milhões de pessoas que foram inoculadas no Reino Unido.
Os EUA têm assim cerca de 40% da sua população vacinada com pelo menos uma dose, o Chile mais de 40%, o Reino Unido cerca de metade, e Israel mais de 60%.
“A comunidade internacional deve fazer mais para enfrentar a tragédia do acesso desigual às vacinas, temos os meios para corrigir este desequilíbrio”, disse Thunberg, falando a partir de Estocolmo, onde vive, numa conferência de imprensa virtual da OMS.
A ativista comparou a pandemia aos efeitos das alterações climáticas e salientou a urgência de “ajudar primeiro os mais vulneráveis”, sublinhando que a iniciativa Covax é a melhor maneira de o conseguir.
A jovem começou por salientar que a ciência mostra que no futuro será provável que a humanidade enfrentará mais pandemias se não mudar a sua forma de agir para com a natureza, acrescentando que 75% das novas doenças chegam aos humanos através dos animais.
“Não podemos separar a crise sanitária da crise climática”, disse Greta Thunberg, salientando que há recursos para corrigir as desigualdades do mundo na luta contra a covid-19, e que não é ético que os países mais ricos já estejam na fase de vacinar os jovens, enquanto os países mais pobres ainda nem vacinaram os seus profissionais de saúde.
As pessoas, insistiu, têm de pensar sobre a forma como tratam os outros, os animais e a natureza, e têm de agir solidariamente para proteger os grupos de risco relacionados com a covid-19. “Proteger os grupos de risco é o que fazemos numa crise”.
Na resposta a diversas perguntas colocadas pelos jornalistas na conferência de imprensa online, a jovem explicou que não está a criticar os mais novos que tomaram a vacina contra a covid-19 (“não diria a ninguém para não tomar a vacina”) mas que a distribuição equitativa de vacinas é um problema que governos e produtores devem resolver.
O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus agradeceu a Thunberg pelo seu apoio e pelo exemplo. “Greta Thunberg tem inspirado milhões de pessoas em todo o mundo a tomar medidas para enfrentarem a crise das alterações climáticas e o seu forte apoio à justiça no acesso às vacinas covid-19 demonstra o seu empenho num mundo mais saudável e seguro para todos”, disse.
ZAP // Lusa
Coronavírus / Covid-19
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