Na totalidade dos 26 Estados europeus, Portugal ocupa a 11.ª posição na lista dos países com maior percentagem de população em risco de pobreza e exclusão social, segundo dados do Eurostat relativos a 2017.
As estatísticas são divulgadas nesta quarta-feira pelo jornal Público, no dia em que se assinala o Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza. De acordo com o diário, um quarto da população portuguesa (23,3%) está “em risco de pobreza ou exclusão”.
Na União Europeia, a percentagem média de pessoas em risco de pobreza é de 22,5%. Bulgária, Grécia e Roménia ocupam o topo da lista com taxas de risco superiores a 34%.
Para o Eurostat, o indicador “risco de pobreza ou exclusão social” define quem está em risco de pobreza monetária, quem vive em agregados com intensidade laboral per capita muito reduzida, ou ainda quem se encontra em situação de privação material severa, aponta ainda o matutino.
Números preocupantes
O professor e investigador Carlos Farinha Rodrigues considera que Portugal mantém uma situação de pobreza e exclusão social preocupantes, recordando que há quase 1,9 milhões de portugueses pobres.
Em entrevista à agência Lusa, o professor do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), e investigador com profundo trabalho sobre o tema, afirmou estar preocupado por as questões da pobreza terem passado para “um estágio secundário”.
Carlos Farinha Rodrigues apontou que, como houve nos “últimos dois, três anos alguma recuperação dos principais efeitos da crise em termos de indicadores de pobreza”, isso como que “adormeceu” a necessidade de discutir esta questão.
“Apesar das melhorias significativas que se verificaram nos últimos anos, continuamos a ter uma situação de pobreza e exclusão social e de desigualdade social que é extremamente preocupante”, defendeu.
De acordo com o especialista, apesar das melhorias económicas, Portugal ainda não conseguiu regressar aos valores registados antes da crise de 2008, altura em que a taxa de pobreza se situava nos 17,9%, 0,4 pontos percentuais abaixo dos 18,3% registados em 2016, e que significam mais de 1,8 milhões de pessoas em situação de pobreza.
Farinha Rodrigues explicou que houve “um agravamento muito grande” dos principais indicadores da pobreza durante a crise económica, sobretudo até 2013, tendência que se começou a reverter a partir de 2014.
O professor sublinhou também que Portugal continua com uma taxa de pobreza “muito elevadas no contexto europeu”, à qual se juntam “fatores de preocupação” como uma taxa de pobreza superior a 11% entre as pessoas que trabalham.
Defendeu que o país precisa urgentemente de uma estratégia nacional de combate à pobreza, que tenha em conta as políticas sociais, mas também as políticas económicas de uma maneira geral, bem como as questões da saúde ou da educação.
“É esta visão de conjunto que eu continuo a achar que falta no nosso país”, concluiu.
Marcelo quer estratégia nacional
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, defendeu nesta quarta-feira que é preciso uma estratégia autónoma de combate à pobreza, à semelhança do que já acontece com as pessoas sem-abrigo, sublinhando que o momento de o fazer é agora.
“A pobreza e a sua erradicação não podem ser assuntos aos quais voltamos apenas nos momentos de crise. Agora que o tempo é de recuperação económica e financeira é o momento para agir”, lê-se na nota publicada no site da Presidência da República, a propósito do Dia Internacional de Erradicação da Pobreza.
Para o Presidente, trata-se de uma data que deve ser lembrada por todos os portugueses, sobretudo nos bons momentos, e aponta que a “erradicação da pobreza e o combate às desigualdades sociais são dois dos problemas para os quais a sociedade portuguesa tem de olhar com determinação e vontade de agir”.
ZAP // Lusa