Tony Prave

Membro Stac Fada, Escócia
Um meteorito que atingiu o noroeste da Escócia há cerca de mil milhões de anos pode ter colidido 200 milhões de anos mais tarde do que inicialmente se acreditava.
Uma nova investigação da Universidade de Curtin, na Austrália, analisou pequenos cristais deixados pelo impacto e descobriu que eram mais recentes do que se pensava anteriormente.
Os dados trazidos pelo estudo, que foi publicado esta semana na Geology, pode alterar o que a ciência conhece sobre a rica história geológica da Escócia e a compreensão geral de como a vida não marinha evoluiu na Terra.
Ao longo da costa noroeste da Escócia existe uma camada de rocha conhecida como Membro Stac Fada. Esta formação faz parte do Grupo Stoer, que consiste em sedimentos da Era Mesoproterozoica que datam de cerca de 1,6 milhões de anos a 1 milhão de anos atrás.
Dentro desta camada encontram-se pistas para compreender o passado antigo da Terra, incluindo um impacto de meteorito que pode ter influenciado a vida no nosso planeta.
Impactos como estes moldaram a Terra de inúmeras formas, incluindo o impacto do Chicxulub que levou ao quinto evento de extinção em massa, ou impactos que trouxeram elementos vitais como minerais e água para a Terra.
Este impacto em particular, que atingiu a Escócia há quase mil milhões de anos, parece ter ocorrido muito mais tarde do que os investigadores inicialmente pensavam. Esta alteração na cronologia pode ajudar os investigadores a preencher mais lacunas no puzzle evolutivo da vida.
Para este estudo, investigadores da Universidade Curtin analisaram pequenos cristais de zircão, que consideram cápsulas do tempo geológicas. A partir da sua análise, determinaram que o meteorito, que se pensava inicialmente ter atingido a Terra há 1,2 mil milhões de anos, na verdade atingiu o nosso planeta há 990 milhões de anos.
“Estes cristais microscópicos registaram o momento exato do impacto, com alguns a transformarem-se mesmo num mineral incrivelmente raro chamado reidite, que só se forma sob pressões extremas”, diz Chris Kirkland, investigador da Escola de Ciências da Terra e Planetárias de Curtin e primeiro autor do estudo, numa nota de imprensa publicada no EurekAlert.
“Isto forneceu provas inegáveis de que o depósito de Stac Fada foi causado por um impacto de meteorito “, acrescenta o investigador.
Para determinar a idade dos cristais, a equipa de investigação desenvolveu um novo método para determinar a sua idade atómica.
“Quando um meteorito atinge a Terra, reinicia parcialmente os relógios atómicos dentro dos cristais de zircão, e estes ‘relógios avariados‘ muitas vezes não podem ser datados, mas desenvolvemos um modelo para reconstruir quando ocorreu a perturbação, confirmando o impacto há 990 milhões de anos”, explica Kirkland.
De acordo com o estudo, este impacto de meteorito ocorreu aproximadamente ao mesmo tempo que os primeiros eucariotas de água doce surgiram. Os eucariotas, organismos com células com um núcleo delimitado por membrana, incluem atualmente a maioria das espécies de plantas, animais e fungos.
“A datação revista sugere que estas formas de vida na Escócia apareceram numa época semelhante à de um impacto de meteorito“, diz Kirkland. “Isto levanta questões fascinantes sobre se grandes impactos podem ter influenciado as condições ambientais de formas que afetaram os ecossistemas primitivos.”
Embora os investigadores saibam que um meteorito causou o Membro Stac Fada, continuam a procurar o local do impacto. “Embora a cratera de impacto ainda não tenha sido encontrada, este estudo recolheu mais pistas que poderão finalmente revelar a sua localização”, adianta Kirkland.
“Compreender quando ocorreram impactos de meteoritos ajuda-nos a explorar a sua potencial influência no ambiente da Terra e na expansão da vida para além dos oceanos”, conclui o investigador.