O primeiro-ministro húngaro está a ameaçar vetar a continuação das sanções à Rússia caso a Ucrânia não reabra os gasodutos. No entanto, Zelenskyy recusa e oferece o gás do Azerbaijão como uma alternativa.
A Hungria adiou a renovação das sanções da União Europeia contra a Rússia na sexta-feira, exigindo que a Ucrânia reabra os gasodutos para permitir que o gás russo entre na Europa.
O primeiro-ministro Viktor Orbán criticou o impacto das sanções na Hungria, afirmando que “a Hungria não pode ser obrigada a pagar o preço das sanções em tais proporções”.
O pacote de sanções da UE, que visa o comércio com a Rússia e congela cerca de 200 mil milhões de euros de ativos soberanos, requer a aprovação unânime dos 27 Estados-Membros para ser renovado de seis em seis meses.
As autoridades reuniram-se em Bruxelas para abordar as objeções da Hungria, com Orbán a sublinhar a sua oposição à recusa da Ucrânia em renovar um acordo de trânsito de gás com Moscovo. O fim do acordo suscitou preocupações na Hungria e na Eslováquia relativamente ao aumento dos custos energéticos e à segurança.
A posição de Orbán marca uma mudança de estratégia. Anteriormente, defendia que a UE devia esperar pela posição do antigo Presidente dos EUA, Donald Trump, relativamente às sanções contra a Rússia. No entanto, depois de Trump ter inesperadamente manifestado apoio a sanções mais duras contra a Rússia esta semana, Orbán redirecionou o seu foco para a Ucrânia, acusando-a de interferir no fornecimento de energia à Hungria.
Apesar das objeções da Hungria, os diplomatas da UE acreditam que Orbán acabará por aprovar a renovação das sanções. As discussões deverão continuar na segunda-feira, quando os ministros dos Negócios Estrangeiros se reunirem em Bruxelas, com o prazo para um acordo a aproximar-se na próxima sexta-feira.
“A Hungria está a agir de uma forma bastante transacional”, disse um diplomata da UE ao Politico, observando que Budapeste ainda não fez exigências concretas. Outro enviado especulou que a resposta tardia da Hungria pode ser um sinal de disponibilidade para negociar e não um veto definitivo.
Zelenskyy quer enviar gás azeri
O presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy anunciou este sábado que a Ucrânia está pronta a utilizar as suas infra-estruturas para transportar gás do Azerbaijão para a Europa, sublinhando a exclusão do gás russo desta iniciativa.
Falando após recentes conversações com o Presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, Zelenskyy referiu a significativa capacidade de exportação do Azerbaijão, de 25 mil milhões de metros cúbicos por ano, que representa uma solução potencial para as necessidades energéticas da Europa, face à interrupção do fornecimento russo.
Os comentários surgem na sequência das ameaças da Hungria. “Não deixaremos que os russos lucrem”, afirmou Zelenskyy, que indicou a disponibilidade da Ucrânia para atuar rapidamente se os países europeus manifestarem interesse no gás azeri.
No entanto, os analistas continuam céticos quanto à capacidade do Azerbaijão para fornecer volumes substanciais de gás à Europa através da Ucrânia. Aura Sabadus, especialista em mercado de gás da ICIS, salientou que o Azerbaijão poderá não ter a capacidade de produção necessária e poderá recorrer a acordos de troca de volumes que envolvam gás russo rebatizado como azerbaijanês, relata o Politico.
Esta evolução segue-se à expiração de um acordo de trânsito fundamental no final de 2024, que permitiu à Rússia exportar gás para a Europa através de gasodutos ucranianos. Embora alguns países, como a Hungria e a Eslováquia, tenham beneficiado desta rota através de taxas de importação, Zelenskyy rejeitou firmemente a prorrogação do pacto, acusando a Rússia de ter explorado o acordo para obter ganhos financeiros durante a guerra.
Apesar das tensões energéticas, Zelenskyy assegurou aos jornalistas que a ajuda militar dos EUA à Ucrânia permanece intacta, mesmo com uma pausa temporária na concessão de ajuda externa ordenada pelo Secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio. “A ajuda militar não foi interrompida, graças a Deus”, disse ele.