Análises forenses à pintura “Landscape with waterfall” de da Vinci revelaram que o desenho foi feito em duas fases, sugerindo que não é a perceção real da paisagem, mas o resultado da pesquisa geológica do artista ao longo dos anos.
O desenho é datado de 5 de agosto de 1473 e muitos historiadores identificaram a paisagem como sendo a Cascata delle Marmore, uma das cascatas artificiais mais altas da Europa, localizada a 7,5 quilómetros de Terni, em Úmbria, na Itália.
Atualmente, a pintura está guardada na Galleria degli Uffizi, em Florença, mas é raramente exposta ao público. Como em abril deste ano vai ser aberta uma grande exposição do trabalho de Da Vinci, as autoridades italianas permitiram que fossem feitas, pelas primeira vez, investigações forenses em algumas das suas pinturas.
Análises microscópicas sob luz infravermelha e raios X revelaram as propriedades químicas da tinta usada pelo artista. Aparentemente, no desenho em questão, Da Vinci utilizou duas tintas muito distintas: uma baseada em pigmentos de ferro e outra em pigmentos de carbono.
Isto sugere que o italiano não esboçou o desenho de uma só vez, mas acrescentou detalhes, como as camadas das rochas, muito tempo depois. É, portanto, improvável que o desenho mostre uma paisagem real. Parece que Da Vinci o usou para esboçar os seus estudos geológicos feitos ao longo do tempo.
Mais de dez mil páginas de anotações de Da Vinci sobreviveram, a maioria datada entre 1470 e 1519. Algumas contêm observações sobre afloramentos e rochas feitas durante as suas viagens pela Toscana e Emília-Romanha. Como engenheiro, também supervisionou a construção de grandes canais de irrigação, cortando os sedimentos dos Apeninos e do Vale do Pó.
Leonardo da Vinci foi um dos primeiros naturalistas a entender a origem das rochas sedimentares e reconhecer os fósseis como restos petrificados de antigos animais vivos, como escreve nas suas anotações pessoais: “Entre uma e outra camada rochosa, há a vestígios dos vermes que neles rastejaram quando elas ainda não estavam secas”.
É provável que tenha chegado a essa conclusão somente depois de ter desenhado a cascata e decidido adicionar os detalhes anteriormente negligenciados – as camadas de rocha – ao seu trabalho inicial.
O artista estudou as rochas e as paisagens, não apenas para satisfazer a sua curiosidade pessoal, como também para melhorar os seus desenhos. As camadas no esboço, em cima da cascata, são geologicamente corretas. Camadas de turbiditos, formadas por avalanches submarinas e depois empurradas por forças tectónicas acima do mar, são avistadas em afloramentos rochosos dos Apeninos. São finas no fundo e espessas no topo, resultado das diferentes taxas de sedimentação sob a água.
Leonardo usou as camadas sedimentares também para criar um efeito tridimensional no desenho, juntamente com as linhas usadas para desenhar os campos cultivados ao fundo.
Da Vinci nunca publicou as suas observações geológicas e, durante mais um século, as origens dos fósseis e das rochas sedimentares permaneceriam um mistério. No entanto, como usou conhecimentos geológicos para melhorar as suas pinturas, inspirou uma geração inteira de artistas do Renascimento.
Foi o pintor alemão Albrecht Dürer, que visitou a Itália duas vezes para estudar a arte de da Vinci, que popularizou a nova técnica na Europa. Depois dele, muitos outros artistas começaram a pintar paisagens realistas, estudando as rochas para retratá-las corretamente nas suas obras de arte.
MC, ZAP // Forbes