O plano de Trump para dar um “pontapé nos tomates” a Ron DeSantis

Michael Reynolds / EPA

Donald Trump já está a preparar o seu arsenal de ataques perante uma provável candidatura presidencial do seu ex-delfim Ron DeSantis. Desde a Segurança Social aos acordos comerciais, o ex-Presidente tem vários trunfos.

A rivalidade entre Donald Trump e o governador da Flórida, Ron DeSantis, não dá sinais de abrandar, apesar de DeSantis se ter mantido em silêncio sobre o assunto.

Os dois começaram como grandes amigos, com Trump a “apadrinhar” DeSantis e a apoiar publicamente a sua candidatura ao governador da Flórida em 2018. DeSantis, por sua vez, era um fervoroso adepto do trumpismo e regularmente elogiava o trabalho do então Presidente.

Mas desde então que a relação dos dois azedou. DeSantis ganhou notoriedade a nível nacional devido à sua resposta polémica à pandemia, tendo a Flórida sido o primeiro estado a acabar com todas as restrições, e desde então que é uma estrela em ascenção no partido Republicano.

Trump, por sua vez, está a afundar-se cada vez mais com sucessivos escândalos — desde a condenação por fraude fiscal na sua empresa, a sua recusa de devolver documentos confidenciais da presidência que motivou a rusga do FBI à sua casa ou a investigação ao seu envolvimento na insurreição dos seus apoiantes no Capitólio.

Os resultados aquém do esperado dos candidatos trumpistas nas eleições intercalares também são um sinal de que o ex-Presidente já não tem a mesma força que teve noutros tempos e há cada vez mais Republicanos a manifestar-se publicamente contra a possibilidade de Trump conquistar o bilhete do partido para as presidenciais de 2024.

DeSantis tem sido apontado com o seu sucessor mais óbvio, já que tem uma ideologia semelhante à de Trump, mas sem toda a bagagem do ex-Presidente, sendo o candidato perfeito para este novo “trumpismo sem Trump“.

E Donald Trump não tem gostado nada disto. No rescaldo das intercalares — das quais DeSantis foi um dos grandes vencedores, tendo sido reeleito com mais de 60% dos votos — e perante a ascensão do seu ex-delfim, o anterior chefe de Estado saiu logo ao ataque e ameaçou divulgar segredos comprometedores do governador da Flórida caso este se candidate à Casa Branca contra si.

“Acho que ele se poderia magoar muito. Acho que a base não gostaria, acho que não seria bom para o partido”, disse na altura, realçando que pode dizer publicamente “coisas” sobre DeSantis que “não lhe seriam muito favoráveis“.

O New York Post, um tablóide que Trump lê regularmente, até dedicou a capa no dia seguinte às intercalares ao governador, chamando-lhe “DeFuture“. A cobertura favorável irritou ainda mais o ex-Presidente, que prefere outra alcunha: Ron DeSanctimonious, ou Ron DeHipócrita.

Trump reúne o seu arsenal

Agora, a Rolling Stone avança que Trump está a desenhar um plano para destruir completamente o seu rival. “É nesta fase que… Trump lhe dá um pontapé nos tomates“, explica uma fonte próxima do ex-Presidente.

Nos últimos dois meses, Trump tem reunido com os seus aliados políticos sobre a melhor forma de chutar com o seu antigo aliado para canto. A sua falta de carisma, as suas posições sobre os acordos comerciais, a sua resposta à covid-19 ou a sua proximidade ao establishment do partido e os seus votos passados para cortar nos apoios sociais são todos trunfos que Trump está a guardar na manga.

O ex-chefe de Estado pergunta até repetidamente aos seus conselheiros “que mais é que temos sobre o Ron?” na sua busca por mais podres do governador.

Uma das armas é tentar pintar DeSantis como a figura preferida pelos poderes constituídos e pesos pesados do partido, enquanto que Trump continua a procurar ser visto como o outsider que não se afunda no “pântano” da corrupção.

A proximidade de DeSantis a nomes como Mitch McConnell — o actual presidente da minoria Republicana no Senado e que também é um amigo que virou inimigo de Trump — é aponatada como um dos pontos fracos do governador da Flórida.

A Segurança Social é talvez o principal ataque à disposição de Trump. Um dos maiores exemplos do impacto que Trump teve nos Republicanos foi ter posto fim à retórica a favor dos constantes cortes à despesa pública e aos apoios sociais que dominava o partido.

Esta estratégia foi importante para a sua vitória em 2016 e este é um assunto em que o historial de DeSantis pode ditar a sua ruína, já que quando era congressista, o actual governador da Flórida votou a favor da subida da idade de elegibilidade para a Segurança Social e para o programa de saúde público Medicare para os 70 anos — duas medidas que cortariam 250 mil milhões de dólares nos apoios aos idosos ao longo de 10 anos.

“Nas primárias republicanas, só Donald Trump poderia efetivamente ir atrás de Ron DeSantis por querer cortar na Segurança Social. Trump tem um historial de dizer as coisas certas neste assunto, tanto na eleição geral como aos eleitores Republicanos nas primárias. O historial de DeSantis na Câmara dos Representantes é parecido ao de Paul Ryan, querendo privatizar a Segurança Social, e os nossos eleitores não querem isso”, refere uma fonte Republicana próxima de Trump.

A política externa é outro tema em que os dois diferem. Trump representou uma mudança na típica postura neoconservadora dos Republicanos, tendo sido um amplo crítico das “guerras sem fim“, aproximado os EUA da Rússia e tendo até declarado que se “apaixonou” por Kim Jong-un.

DeSantis, por sua vez, tem um perfil mais convencional, começando até pelo seu historial no exército, tendo servido na guerra do Iraque e trabalhado na prisão de Guantanmo. Sobre Putin, o governador tem também palavras bem menos simpáticas do que Trump, descrevendo-o como um “funcionário autoritário de uma bomba de gasolina… com algumas armas nucleares”.

No comércio, Trump afirmou-se também como um defensor da indústria nacional e contra os acordos como a NAFTA ou o TPP que favoreceram o outsourcing, um factor determinante na sua vitória em 2016 nos estados decisivos do Michigan, Pensilvânia e Wisconsin. DeSantis, por sua vez, votou a favor do TPP em 2015, um acordo que é tão impopular que até Hillary Clinton prometeu na sua campanha que o iria reverter.

Por fim, o ex-Presidente planeia usar a mudança de posições de DeSantis sobre a vacinação contra ele. Em 2021, o governador da Flórida encorajou publicamente a população a vacinar-se, mas desde então que tem tentado conquistar a facção anti-vacinação do eleitorado e tem levantando dúvidas sobre a segurança e eficácia das vacinas, algo que levou a Trump a descrevê-lo como “totalmente falso”.

Antecipa-se assim um debate quente entre os dois ex-amigos.

Adriana Peixoto, ZAP //

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