Transtorno pré-menstrual ainda leva mulheres ao internamento psiquiátrico

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Todos os meses, há mulheres atacadas por uma forma extrema e severa da chamada tensão pré-menstrual que pode levá-las a pensar no suicídio. Um transtorno físico que, contudo, continua a ser visto como uma mera psicose por muitos profissionais de saúde.

Estamos a falar do Transtorno Disfórico Pré-menstrual (TDPM), uma desordem que só foi reconhecida, oficialmente, pela medicina no início deste Século.

Esta doença ginecológica afecta entre 5% a 8% das mulheres, em idade fértil, e constitui uma forma aguda da chamada tensão pré-menstrual, com sintomas semelhantes, mas mais intensos, nomeadamente irritabilidade, depressão, sentimentos suicidas, insónia e falta de apetite.

“Bruxas” na Idade Média, “psicóticas” na actualidade

A TPDM é contudo, ainda encarada por muitos profissionais de saúde como uma psicose ou como um mal-estar relacionado com a ansiedade, pelo que há mulheres que sofrem do transtorno que chegam a ser internadas em hospitais psiquiátricos.

Foi esse o caso de Sarah, uma mulher de 23 anos que conta à BBC que passou um ano inteiro a entrar e a sair de uma clínica psiquiátrica para adolescentes, depois de ter sido diagnosticada com desordem bipolar aos 13 anos de idade.

Sarah diz que começou por sentir “ansiedade e depressão” e, com o prolongar do problema, “psicose – via coisas e ouvia coisas – e mania”.

O seu caso foi assim, diagnosticado como um mal do foro psiquiátrico quando, na verdade, ela padece de TDPM.

“Como os sintomas são cíclicos, os psiquiatras, por vezes, acreditam que é um transtorno bipolar e então, os pacientes seguem um tratamento, durante anos, com terapias e anti-psicóticos como o lítio“, explica na BBC o especialista de ginecologia John Studd.

Foi esse o caso de Rachel, de 35 anos, outra mulher ouvida pela BBC que tomou anti-depressivos, ao longo de anos, prescritos contra a ansiedade e que quase acabou internada num hospital psiquiátrico.

O psiquiatra que a seguiu continua a dizer que Rachel sofre da doença bipolar e um médico chegou a dizer-lhe que, na Idade Média, seria, provavelmente, queimada na fogueira como bruxa.

No caso de Laura, de 38 anos, a TDPM afectou tão negativamente a vida dela, levando-a até a não conseguir manter um emprego estável, que ela está a preparar-se para fazer uma histerectomia, ou seja, remover o útero e os ovários, para cortar o mal pela raiz, conforme relata à BBC.

Estudo aponta para problema genético

Os tratamentos mais habituais e adequados para a TDPM incluem a hormona estrogénio para “dominar o ciclo [menstrual] e os sintomas cíclicos”, explica Studd.

Mas um estudo publicado na revista Molecular Psychiatry, no início de 2017, veio dar um empurrão a um potencial novo tratamento para o problema, depois de ter concluído que a TDPM pode ser causada pela genética.

Investigadores dos NIH, Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos, detectaram um grupo de genes, nas mulheres que sofrem de TDPM, que afecta o modo como as hormonas sexuais interagem com outros genes.

“Descobrimos uma expressão desregulada no complexo de genes suspeito que acrescenta provas de que a TDPM é uma desordem de resposta celular ao estrogénio e à progesterona”, explica um dos investigadores do estudo, Peter Schmidt, no site dos NIH.

“Aprender mais sobre o papel deste complexo de genes conserva a esperança para um tratamento melhorado de tais transtornos prevalentes de humor relacionados com o sistema endócrino reprodutivo”, acrescenta Schmidt.

“Trata-de se um grande momento para a saúde das mulheres porque estabelece que as mulheres com TDPM têm uma diferença intrínseca, no seu aparelho molecular, para responder às hormonas sexuais – não apenas comportamentos emocionais que deveriam ser capazes de controlar voluntariamente”, releva por seu turno outro dos co-autores do estudo, David Goldman, também citado no site dos NIH.

SV, ZAP //

4 Comments

  1. Diz-se que “a ignorância é um mal, mas não contagioso”… Mas a realidade destes “inspirados” comentários, contraria a sabedoria popular.

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