É um sistema que se apresenta como dinâmico e ágil, mas a autonomia poderá não ser o que o trabalhador pensa que será.
Certamente, muitas pessoas que estão a ler este artigo estão neste regime: o trabalho híbrido.
Um sistema muito comum depois de a pandemia aparecer, em que trabalha-se alguns dias (dois ou três) em casa e trabalha-se noutros dias (dois ou três) na sede da empresa.
É um regime que se apresenta como flexível, dinâmico, em que o trabalhador controla o seu tempo.
Mas pode não ser bem assim…
Começamos por lembrar que, em muitas empresas, são os directores – e não os trabalhadores – a definir horários, a dizer quando é que o trabalhador vai trabalhar em casa e no escritório. Só isso tira a aparente flexibilidade.
“Muitas vezes, é dar aos funcionários uma programação híbrida de onde eles devem fazer o seu trabalho, sem nenhuma flexibilidade. É encaixá-los em padrões fixos que podem não dar suporte ao seu trabalho”, diz na BBC Tim Oldman, fundador e CEO de uma empresa em Londres.
Uns trabalhadores são mais afectados do que outros por causa desta flexibilidade que afinal não é muito flexível: quem cuida de alguém em casa ou quem tem deficiência é mais afectado, geralmente.
A programação de muitas empresas fixa dias em que se vai à empresa – para marcar reuniões, para definir agendas, para fortalecer espírito de equipa.
E isso, um horário híbrido fixo, beneficia alguns trabalhadores. São os próprios funcionários, ou parte deles, que admitem que preferem calendários fixos. Rotinas, estabilidade.
Mas esse calendário fixo, por norma, também é muito rígido; quer nos dias em que é para ir à empresa, quer no horário de trabalho nesses dias.
Por isso, a maioria dos trabalhadores não prefere este sistema. Sente menor autonomia, menor satisfação – e os resultados pioram.
No fundo, muitas vezes a teoria (dentro das próprias empresas) de diversidade, equidade e inclusão não se pratica. Um regime híbrido, mas fixo, pode recuar a convergência entre necessidades de empregadores e trabalhadores.
Solução?
Procurar outro emprego, em resumo.
Quem trabalha num escritório, mas preferia trabalhar mais em casa, tem maior probabilidade de procurar outro emprego.
O salário até pode ser aceitável, ou mesmo bom, mas se as expectativas não são correspondidas, a pessoa procura uma alternativa.
E o caminho do lado das empresas, numa fase em que ainda se “apalpa muito terreno” com experiências, tem sido abandonar a flexibilidade e adoptar um horário rigido, fechado.
A tensão aumenta entre os dois lados. De um lado apresentam-se argumentos de concentração, resultados e equipa; do outro apresentam-se argumentos de família, liberdade e “nova era”.
Mas, quase sempre, a decisão será de quem manda na empresa.