Torneio nos Países Baixos serviu para testar algumas alterações profundas no funcionamento de um jogo de futebol, incluindo a paragem do tempo, para evitar momentos como o do duelo entre Ceará e Athletico Paranaense.
O Athletico Paranaense, que nunca mereceu tanta atenção em Portugal como nesta época, atrasou-se na luta pela liderança do Brasileirão.
A equipa treinada por António Oliveira sofreu a terceira derrota no campeonato (segunda nos últimos três jogos), perdendo no Castelão contra o Ceará por 1-0.
O jogo ficou marcado pelo que aconteceu depois dos 95 minutos. Precisamente aos 95′ o árbitro assinalou falta de Pedro Henrique sobre Lima, a menos de um metro da linha da grande área, em frente à baliza. Livre muito perigoso a favor do Ceará…que demorou a ser cobrado.
Nos primeiros instantes, ficaram todos parados. Jogadores do Ceará, jogadores do Athletico e até o árbitro. Tudo parado, ou a andar muito devagar – e estiveram assim durante quase um minuto.
O segundo minuto da paragem serviu para o árbitro colocar a barreira no sítio, com o habitual spray, mas também com a habitual velocidade: tudo muito devagar.
Depois um dos futebolistas do Athletico deitou-se por detrás da barreira e ajoelhou-se de seguida. O árbitro falava com todos, depois a barreira andou para a frente; foi preciso ajeitar a fila, sem atropelar o jogador que estava atrás, ajoelhado. “Calma, calma!” – pediu ele. Estava tudo com muita pressa.
Mais tarde (muito mais tarde), o árbitro deixou a zona da barreira e foi conversar com o trio do Ceará que estava pronto para bater o livre, foi confirmar onde estava a bola. Depois voltou à barreira, depois falou com um homem do Ceará que estava demasiado perto da barreira.
E a bola voltou a rolar…aos 97m37s. Ou seja, mais de dois minutos e meio depois de o árbitro ter apitado a indicar falta. Mais de dois minutos e meio para marcar um livre. E nem houve cartões, ou protestos, pelo meio.
O livre originou um canto – e o canto originou o único golo do jogo, apontado por Wendson aos 98m04s (quando tinham sido dados seis minutos de compensação, mas quase metade desses seis minutos foi perdido na preparação para o livre).
Teste para mudar o futebol
Curiosamente este jogo, disputado no sábado, surgiu na mesma semana em que se iniciou o Future of Football Cup, um torneio nos Países Baixos, organizado pela Red Bull. Os participantes foram equipas de juniores e de sub-23 de Leipzig, PSV Eindhoven, AZ Alkmaar e Club Brugge.
Mas o destaque neste torneio não são as equipas mas sim as regras.
A alteração mais visível é o tempo de jogo. Para evitar perdas de tempo útil de jogo, como aconteceu no triunfo do Ceará (e que se repetem em todas as jornadas, em muitos países), os 90 minutos de tempo corrido desapareceram: a partida dura 60 minutos, com duas partes de 30 minutos cada, e o relógio pára sempre que o jogo também é interrompido – e a contagem do tempo é feita de forma decrescente.
O cartão amarelo origina uma suspensão de cinco minutos. A equipa afetada fica com 10 jogadores durante esses cinco minutos, a não ser que o “amarelado” seja o guarda-redes; aí há substituição. Não há número limite de substituições. Cada treinador pode realizar as alterações que quiser.
Os lançamentos laterais podem ser executados com o pé. Em lançamentos, cantos ou pontapés de baliza, o jogador pode conduzir a bola; deixa de ser obrigatório passar a um colega.
O torneio inovador decorre no centro de treinos da Federação Holandesa de Futebol e também tem inovações na realização televisiva: há entrevistas a jogadores e a treinadores durante o jogo.
Gosto de futebol. Do futebol genuíno que já quase não existe. Do futebol que não tem ordenados pornográficos. Do futebol, em que a “representação” do país não se faz com não naturais. Do futebol em que a representação do país não implica um “subsídio” equivalente ao ordenado mínimo diariamente. Do futebol em que os artistas são os 11 no campo, e não os “artistas” dos gabinetes. Do futebol que não tem empresários que precisam que todos os anos os seus jogadores troquem de equipa. Do futebol que não faz de miúdos mimados e inúteis pseudo-estrelas à escala planetária seguidos por milhões. Do futebol que não é um palco de violência, de racismo, de xenofobia, de intolerância, um destilar de frustrações e ódios sem fim. Do futebol que não é palco de branqueamento de capitais e afins. Enfim, gosto de futebol. Do genuíno, do autêntico, não do actual.
Ainda assim, e enquanto leigo na matéria:
– não me parece que das substituições ilimitadas resulte algo de positivo;
– não sei até que ponto o fim da obrigatoriedade de passar a um colega seja também positivo.
talvez fossem mais interessantes duas alternativas:
– acabar com os fora-de-jogo;
– acabar com os livres indirectos.