Testes de fertilidade caseiros estão a ser cada vez mais vendidos na Europa e nos EUA. Como funcionam? E será que são fiáveis?
Cada vez mais pessoas estão a ter filhos mais tarde. No Reino Unido, os pais estão a ter os seus primeiros filhos, em média, com idade entre 30 e 33 anos. Há cinquenta anos, a média era de 26 anos. Existem muitas razões que nos levam a decidir a ser pais mais velhos.
Por um lado, esperar pode permitir-nos criar estilos de vida mais estáveis em primeiro lugar, estabelecendo uma carreira e construindo a nossa vida financeira.
Mas muitos de nós também sabemos que, quanto mais esperarmos, mais dificuldade podemos ter para ser pais, já que a idade é um dos fatores que mais influenciam a fertilidade.
Esta é uma decisão importante e não surpreende que haja cada vez mais interesse pelos testes caseiros de fertilidade, que são frequentemente anunciados para um público-alvo na casa dos 20 e 30 anos de idade.
Mas, embora esses kits de teste possam fornecer informações úteis, não dão um quadro completo da sua fertilidade.
Os testes domésticos
Para as mulheres, o pico da fertilidade ocorre entre a adolescência e perto dos 30 anos de idade. Após os 35 anos, a fertilidade da mulher diminui mais rapidamente e, com cerca de 45 anos de idade, a gravidez sem auxílio de tratamentos torna-se improvável.
Já entre os homens, embora a fertilidade também diminua com a idade, eles não sofrem uma queda tão dramática depois dos 35 anos. Por isso, a melhor idade para conceber um filho ocorre quando, muitas vezes, ser mãe está longe de passar pela cabeça da mulher.
Isso pode explicar porque é que os kits domésticos de fertilidade são tão atraentes. Eles prometem traçar um quadro da sua fertilidade para que você possa planear melhor quando começar a tentar ter filhos.
Vários desses testes são atualmente destinados às mulheres. É compreensível, pois as mulheres nascem com todos os óvulos que terão na vida, ao contrário dos homens, que produzem espermatozoides continuamente a partir da puberdade.
A maioria dos kits funciona com uma pequena amostra de sangue dos usuários, que é enviada para um laboratório para exames.
Para obter um quadro da fertilidade, esses kits tipicamente examinam os níveis de hormonas específicos no sangue da utilizadora – mais frequentemente, a hormona folículo-estimulante (FSH), a hormona luteinizante (LH) e a hormona antimülleriana (AMH).
Os testes que examinam o FSH e o LH podem fornecer uma ideia geral do equilíbrio hormonal da mulher e indicar quando pode ocorrer a ovulação. Isto pode ajudar a determinar quando pode ser a melhor época para o sexo se ela estiver a tentar a gravidez.
Os níveis de AMH são usados como marcadores para o número de óvulos restantes no ovário. Por isso, os testes que observam os níveis de AMH podem ser capazes de indicar se a fertilidade está a diminuir.
Estes testes podem indicar a sua fertilidade atual, mas não podem prever qual será a fertilidade daqui a cinco ou dez anos. E, embora possam monitorizar os níveis hormonais ou o número de óvulos que ainda estão no ovário, não podem dizer se uma mulher é infértil.
Isto acontece porque eles não medem a qualidade dos óvulos da mulher, nem detetam se tem complicações físicas (como bloqueios dos tubos falopianos) que a impeçam de ficar grávida. Este tipo de informação só pode ser exibido com outros exames.
Os investigadores também alertaram recentemente contra o excesso de ênfase sobre a determinação da situação de fertilidade com apenas alguns fatores biológicos selecionados.
Isto porque a fertilidade é regulada por um conjunto complexo de fatores biológicos e de estilo de vida, como o peso, má alimentação, o tabagismo e excesso de consumo de álcool.
Problemas de fertilidade
Embora a maior parte destes testes domésticos de fertilidade seja dirigida às mulheres, a fertilidade é uma consideração tão importante para o homem quanto para a mulher.
Cerca de um a cada oito casais é afetado pela infertilidade. Ela é definida por não conseguir a gravidez após 12 meses de sexo regular sem proteção.
Existem muitas razões para a ocorrência de infertilidade, como desequilíbrios hormonais, problemas de ovulação ou óvulos de má qualidade.
Nas mulheres, infeções anteriores também podem influenciar. Nos homens, muitas vezes, a infertilidade é causada por contagem de espermatozoides muito baixa e pode ser consequência de infeções anteriores. Mas, em muitos casos, as razões são desconhecidas.
Muitos homens podem acreditar que, se conseguirem a ereção e ejacularem, não existe problema com a sua fertilidade. Os homens também podem acreditar que a idade não é um problema tão grande para a sua fertilidade quanto para as mulheres.
Mas a infertilidade entre os homens está a aumentar, em consequência do nosso modo de vida atual. A obesidade, tabagismo, má alimentação, consumo excessivo de álcool e o uso de drogas recreativas já foram relacionados à redução da fertilidade dos homens.
Embora também haja kits de teste de fertilidade masculina à venda online, estes testes normalmente dizem apenas quantos espermatozoides são produzidos em cada ejaculação.
A forma (morfologia) e a velocidade (mobilidade) dos espermatozoides também são fatores fundamentais para determinar a fertilidade do homem, mas normalmente não são medidas por esses kits.
Uma análise clínica completa do sémen ainda é a melhor forma de avaliar a fertilidade masculina. O quadro da fertilidade moderna está a mudar. As taxas de fertilidade estão a cair em todo o mundo.
Em muitos países, menos crianças nascem hoje em comparação com há 60 anos. Estudos recentes também demonstram que as contagens de espermatozoides caíram em cerca de 60%.
Mas mudanças simples de estilo de vida podem ajudar a aumentar a fertilidade. Perder peso e evitar fumar e beber em excesso podem aumentar as probabilidades de gravidez de um casal.
Por isso, se estiver a pensar em ter filhos, seja no futuro próximo ou muito mais tarde, mudanças no seu estilo de vida são um bom lugar para começar se estiver preocupado com a sua fertilidade.
ZAP // The Conversation
