O dinheiro terá sido desviado pelo chefe e por uma administrador da tesouraria, que mauseiam dinheiro vivo. Ainda não se sabe se os dois incidentes estão relacionados e se a Santa Casa fez queixa às autoridades.
A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) terá sofrido um desvio de cerca de 200 mil euros por parte de dois funcionários: o chefe da tesouraria e um administrativo.
Segundo informações apuradas pelo Público, os desvios, realizados ao longo de 2024, foram descobertos em dezembro durante o fecho das contas. O chefe da tesouraria é suspeito de ter desviado 80 mil euros, enquanto o administrativo teria desviado 120 mil.
O caso gerou repercussão interna, com o chefe da tesouraria a ser suspenso pela Mesa da SCML, enquanto o administrativo pediu demissão. Ainda não está claro se os casos estão relacionados, mas o do administrativo foi o primeiro a ser identificado. Apesar de questionada, a SCML recusou-se a comentar se foram apresentadas queixas às autoridades ou se serão implementadas medidas de controlo financeiro, especialmente no manuseio de dinheiro vivo, que é comum na tesouraria.
O atual provedor, Paulo de Sousa, que assumiu o cargo em maio de 2024, enfrenta um ambiente de pressão. Desde a sua posse, tem gerido um plano de reestruturação para reequilibrar as contas, afetadas por projetos como a internacionalização dos jogos sociais, que resultaram em prejuízos na gestão anterior.
Para enfrentar a crise de integridade na instituição, Paulo de Sousa implementou um Código de Ética e Conduta em setembro de 2024, exigindo que todos os funcionários assinassem uma declaração de conflito de interesses. Essa medida procurou reforçar a transparência e prevenir novas irregularidades.
Além do caso da tesouraria, há outras investigações em curso relacionadas a contratos públicos e adjudicações da Direção de Sistemas e Tecnologias de Informação (DISTI). Entre 2010 e 2023, os gastos com tecnologia na SCML subiram de 89 milhões para 225 milhões de euros, com o maior aumento registrado nas gestões de Edmundo Martinho e Ana Jorge.
Atualmente, a gestão da SCML está sob escrutínio em sete processos do MP, seis dos quais ainda em fase de inquérito. Essas investigações incluem suspeitas de crimes ligados à contratação pública e foram notificadas à Comissão Parlamentar de Inquérito pela ex-procuradora-geral da República, Lucília Gago.