Terramoto, demissões e golpes. O impacto das eleições pela Europa fora

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Vivien Cher Benko / EPA

Marine Le Pen, a líder francesa do partido de extrema-direita Reunião Nacional, com Viktor Orbán, o primeiro-ministro húngaro e líder do Fidesz.

As eleições europeias estão a causar tumultos em alguns dos países mais influentes da Europa, com várias demissões e resultados surpreendentes.

Não foi só em Portugal que o impacto das eleições europeias se fez sentir. Desde demissões, grandes quebras e grandes subidas de partidos inesperados e até convocações de novas eleições, as europeias estão a abalar a panorama político em vários países do velho continente.

De acordo com a mais recente estimativa do Parlamento Europeu, o Partido Popular Europeu (PPE) venceu as eleições europeias com 184 lugares, mais 47 do que os socialistas.

Segundo a projeção, divulgada às 09:06 de Bruxelas (08:06 de Lisboa), o PPE (que integra PSD e CDS-PP) mantém-se como a principal força política europeia, seguido pelo grupo dos Socialistas e Democratas (S&D, inclui o PS), que conquistou 139 lugares e continua como segunda maior bancada.

Já o Renovar a Europa (que inclui Iniciativa Liberal) mantém-se no terceiro lugar, com 80 eleitos. O grupo de direita dos Conservadores e Reformistas (ECR) consegue 73. A extrema-direita do Identidade e Democracia (ID, que inclui Chega) conquista 58 eurodeputados, enquanto os Verdes (que inclui Livre e PAN) obtêm 52 lugares. A Esquerda Europeia (que integra PCP e Bloco de Esquerda) terá conseguido 36 lugares.

França: Um terramoto político

O resultado mais dramático das eleições foi em França, onde o partido centrista do Presidente Emmanuel Macron foi derrotado pela Reunião Nacional de extrema-direita de Marine Le Pen. A vitória de Le Pen foi esmagadora, conseguindo mais do dobro da percentagem de votos do que o partido de Macron.

Esta derrota levou Macron a convocar eleições legislativas antecipadas, uma medida arriscada que poderá afetar ainda mais o apoio do seu partido e aumentar a influência de Le Pen.

A fragilidade de Macron pode também ter ramificações políticas para outros países, dada a importância de França nas chefias europeias. O partido de Le Pen, embora já não defenda a saída da UE, pretende enfraquecê-la a partir do seu interior, com controlos mais rigorosos da imigração e reduzir o âmbito dos regulamentos climáticos.

Alemanha: Um golpe para o centro-esquerda

Na Alemanha, a coligação de centro-esquerda liderada pelo chanceler Olaf Scholz sofreu uma derrota substancial. A oposição conservadora, beneficiando das dificuldades de Scholz, manteve a sua posição como o partido alemão mais forte no Parlamento Europeu.

Apesar de uma série de escândalos recentes — incluindo suspeitas de espionagem para a Rússia e um dirigente que defendeu membros da mílicia nazi SS —, o Alternativa para a Alemanha (AfD), de extrema-direita, também registou ganhos significativos, assegurando o segundo lugar.

Os sociais-democratas de Scholz caíram para terceiro lugar com 14%, o seu pior desempenho após a Segunda Guerra Mundial numa votação a nível nacional. Os Verdes, cruciais para a política climática da UE, também registaram um declínio no seu apoio.

Hungria: Orbán com grande tombo

O partido Fidesz, do primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán, obteve 43% dos votos, mas registou uma queda significativa em relação ao seu anterior apoio. Péter Magyar, um antigo membro do Fidesz que fundou o partido Respeito e Liberdade (TISZA), surgiu como um adversário formidável, assegurando 31% dos votos.

A ascensão de Magyar é alimentada por acusações de corrupção e má gestão no seio do governo de Orbán, posicionando o TISZA como uma alternativa centrista ao populismo iliberal de Orbán.

Orbán enquadrou as eleições como uma escolha crucial entre a guerra e a paz, sugerindo que um voto na oposição poderia arrastar a Hungria para o conflito na Ucrânia. Apesar disso, a diminuição do apoio do partido Fidesz indica uma insatisfação crescente no meio da crises económica e escândalos.

Espanha: Vox sobe para terceiro lugar

Aqui ao lado, o Partido Popular (PP) foi o grande vencedor das eleições europeias em Espanha, obtendo entre 22 assentos no Parlamento Europeu. O PP aumentou significativamente a sua representação, já que nas eleições de 2019 havia conquistado apenas 12 lugares.

O Partido Socialista Espanhol (PSOE), liderado pelo primeiro-ministro Pedro Sánchez, ficou em segundo lugar, elegendo entre 20 eurodeputados. Em comparação com os 21 assentos obtidos em 2019, o PSOE desceu ligeiramente.

Já o partido de extrema-direita Vox, que nas últimas eleições europeias era a quinta força política, agora subiu para a terceira posição com 10,4% dos votos, elegendo seis eurodeputados, um aumento de dois em relação a 2019. Outro partido de extrema-direita, Acabou-se a Festa, estreou nas eleições europeias, com 3,9% dos votos e elegendo entre três eurodeputados.

Itália: Cresce a influência de Meloni

O partido Irmãos de Itália, do primeiro-ministro Giorgia Meloni, com as suas raízes neofascistas, venceu as eleições e mais do que quadriplicou o seu resultado face a 2019. Esta vitória reforça a capacidade de Meloni para influenciar a política da UE, onde tem ganhado um papel preponderando no apoio à Ucrânia e a Israel, apesar das suas políticas internas de extrema-direita.

O Partido Democrático, de centro-esquerda, e o Movimento 5 Estrelas ficaram atrás do partido de Meloni. Não se espera que a eleição desestabilize o Governo italiano, mas é provável que mude a dinâmica de poder dentro da coligação, diminuindo a influência da Liga de Matteo Salvini e do Forza Italia liderada por Antonio Tajani.

Bélgica: Primeiro-ministro demite-se

Os resultados na Bélgica levaram a que Alexander de Croo anunciasse a sua demissão este domingo, na sequência da derrota do Open VLD.

O seu partido liberal sofreu uma grande quebra: obteve 5,7% dos votos, segundo as sondagens à saída, uma queda de 2,8 pontos percentuais em relação ao resultado de 2019. O presidente do partido, Tom Ongena, disse que também se demitiria.

Visivelmente emocionado, o primeiro-ministro confessou ser uma “noite particularmente difícil”. “Perdemos. A partir de amanhã serei primeiro-ministro demissionário. Mas os liberais são fortes”, garante.

Eslováquia: Partido de Fico em segundo

Na Eslováquia, o partido liberal e pró-ocidental Eslováquia Progressista triunfou sobre o partido populista e pró-russo do primeiro-ministro Robert Fico. Estas eleições seguiram-se a uma tentativa de assassinato de Fico, que chocou o país e levou a um aumento da afluência às urnas de 34,4%.

O partido Eslováquia Progressista obteve 27,8% dos votos e seis lugares no Parlamento Europeu, enquanto o partido Smer de Fico obteve 24,8% e cinco lugares. O partido de extrema-direita República, que defende a saída da Eslováquia da NATO, ficou em terceiro lugar, com 12,53% dos votos.

Adriana Peixoto, ZAP //

3 Comments

  1. Fosca-se, que rasia! A esquerdalhada está de luto por todo o lado. Já deu o que tinha dar. É tempo de maior dignidade e bem-estar para as pessoas e maior progresso dos países. Isso não se controi com pelintras ou ilusionismos esquerdoides.

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  2. Repito o meu comentário sobre a mudança ideológica da Esquerda para a Direita no Parlamento Europeu, o que só pode tornar mais remota a nomeação no ex-primeiro ministro demissionário António Costa para um alto cargo num dos principais órgãos dirigentes da União Europeia. O resto é mera propaganda da imprensa portuguesa. Obrigado pela rectificação!

  3. Um raciocínio correto, Manuel Cabral. Porque continuamos a alimentar ilusionismos. escancarados? Esta imprensa tem que tomar tino e regenerar-se ou enquadrar-se, enquanto é tempo. “Mudan-se os tempos, mudam-se as vontades.”, segundo o nosso maior, que hoje comemoramos. Costa anda a correr atrás de prejuizos e dos novos tempos. Não terá qualquer hipótese nem isso acrescentaria algo aos portugueses e ao país.

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