Teme-se “paralisia política” na UE em caso de divisão pós-eleitoral nos Países Baixos

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Dilan Yeşilgöz, nova líder do VVD anteriormente liderado por Mark Rutte, é a favorita para liderar os Países Baixos.

Sondagens renhidas indicam que nenhum dos três principais partidos consegue mais de 20% dos votos, obrigando a acordos de coligação com outros dos 14 partidos. “Momento decisivo na política neerlandesa.”

Um eventual resultado renhido nas eleições legislativas dos Países Baixos da próxima semana, seguido por meses de negociações para encontrar coligações para governar, poderiam levar a “potencial paralisia política” na União Europeia (UE), alertam analistas ouvidos pela Lusa.

A menos de uma semana de os Países Baixos irem a votos, as renhidas sondagens projetam um resultado pouco clarificador, situação que leva a analista Elizabeth Kuiper, do Centro de Política Europeia (European Policy Centre) a observar que “as negociações de coligação que se seguirão às eleições poderão durar meses, conduzindo a uma potencial paralisia política ao nível da UE”.

Os Países Baixos vão a votos, na quarta-feira, pondo fim a 13 anos de liderança do conservador Mark Rutte, primeiro-ministro com maior longevidade da história neerlandesa, que analistas ouvidos pela Lusa qualificam de “sobrevivente” político e promotor de estabilidade.

“É uma decisão pessoal, independentemente dos acontecimentos das últimas semanas”, assegurou Rutte, depois de anunciar a retirada, em julho.

O Governo de coligação, formado por quatro partidos, envolveu-se em disputas internas por causa das políticas de imigração; não chegou a acordo para limitar o número de pedidos de asilo de refugiados.

Agora, as projeções indicam que nenhum dos três principais partidos — o Partido da Liberdade e da Democracia (VVD), a Aliança dos Verdes e do Trabalho (GL-PvdA) e o Novo Contrato Social (NSC) — consegue mais de 20% dos votos, obrigando a acordos de coligação com outros dos 14 partidos que se apresentam ao sufrágio, que podem demorar vários meses.

De acordo com Elizabeth Kuiper, um cenário de paralisia “seria prejudicial para a posição dos Países Baixos na UE, como também seria uma má notícia” para o bloco comunitário, dada a importância do país.

“Resta saber como o novo governo se posicionará em relação às questões relacionadas com a UE [já que] alguns dos partidos que atualmente estão no topo das sondagens são mais críticos em relação à UE do que a atual coligação liderada por Mark Rutte e, por exemplo, o recém-criado NCS tem feito campanha a favor de uma autoexclusão europeia em questões como a migração e a política ambiental”, disse à Lusa.

“Momento decisivo na política neerlandesa”

Também ouvido pela Lusa, Dharmendra Kanani, do grupo de reflexão Amigos da Europa (Friends of Europe), afirma que “as próximas eleições neerlandesas são muito significativas não só para os Países Baixos, mas também para a UE”, já que “esta será a primeira vez que os cidadãos neerlandeses não terão a oportunidade de votar em Mark Rutte, que foi primeiro-ministro dos Países Baixos durante mais de uma década”.

Já o investigador Herman Quarles van Ufford, do grupo de reflexão Conselho Europeu das Relações Externas (European Council on Foreign Relations), fala naquele que pode ser um “momento decisivo na política neerlandesa” pela eventual ascensão do recém-criado NCS, que a seu ver pode “ter a chave para formar uma nova coligação, quer à esquerda quer à direita do centro”.

“As capitais europeias estarão atentas ao partido que ganhar as eleições, a quem se tornará o novo primeiro-ministro e a quão crítica ou, pelo contrário, quão próxima for a nova coligação […] nas discussões sobre o alargamento, a reforma interna da UE e o asilo e a migração”, bem como no apoio à Ucrânia e no investimento em defesa, elenca Herman Quarles van Ufford.

Líder durante 17 anos do Partido Popular para a Liberdade e a Democracia (VVD), de centro-direita, Rutte surpreendeu, em julho passado, ao anunciar a sua demissão do cargo, com o súbito colapso da sua quarta coligação governamental devido a uma divisão sobre a política migratória, num contexto da ascensão dos partidos de direita.

Questionados pela Lusa sobre os principais temas desta campanha, os analistas apontam a política migratória, o fraco crescimento económico e a crise da habitação, nomeadamente depois de o governo de Rutte ter caído por um projeto de lei para reduzir o número de requerentes de asilo e numa altura em que estima uma escassez de 390 mil habitações em 2023.

O panorama geral na oposição em relação ao afastamento de Rutte foi de respeito mas há quem ache que esta decisão é realmente positiva para os Países Baixos – e que deveria ter sido tomada mais cedo.

“Boas notícias!”, reagiu Sylvana Simons (BIJ1). E Farid Zarkan (DENK) disse que Mark Rutte já vai tarde: “É a decisão correcta, mas no momento errado. Já deveria ter saído muito antes“.

ZAP // Lusa

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