Finalmente, Magnus Carlsen veio quebrar o silêncio relativamente ao recente escândalo no mundo do xadrez. O campeão mundial abandonou uma partida por suspeitar que o seu adversário estava a fazer batota.
Recentemente, Hans Niemann, um jovem de 19 anos, quase desconhecido, derrotou o melhor jogador do mundo, Magnus Carlsen – que já não perdia há 53 duelos e lidera o xadrez a nível mundial há mais de uma década.
Após essa partida da terceira ronda, sem justificação, Magnus Carlsen anunciou que iria desistir do torneio. Apenas recordou José Mourinho, numa frase do treinador português em 2014: “Prefiro não falar. Se disser o que sinto, terei problemas”.
I’ve withdrawn from the tournament. I’ve always enjoyed playing in the @STLChessClub, and hope to be back in the future https://t.co/YFSpl8er3u
— Magnus Carlsen (@MagnusCarlsen) September 5, 2022
A situação gerou suspeitas de batota por parte do jovem. É que Hans Niemann já foi expulso de um portal de jogos de xadrez online, por chamada de vídeo, por ter utilizado um computador para analisar os movimentos do adversário.
Na passada segunda-feira houve reencontro entre Magnus Carlsen e Hans Niemann. Desta vez num jogo online, na Julius Baer Generation Cup. O melhor do mundo realizou uma jogada… e desistiu. Desligou a câmara de vídeo e não voltou.
Depois de um período de silêncio sem abordar o assunto, Magnus Carlsen divulgou, esta segunda-feira, um comunicado sobre os recentes eventos.
“Sei que as minhas atitudes frustraram muita gente […]. Estou frustrado. Quero jogar xadrez”, diz o norueguês.
“Acredito que a batota no xadrez é algo importante e uma ameaça existencial ao jogo. Creio também que os organizadores e todos aqueles que se preocupam com a ‘santidade’ do jogo que amamos deveriam considerar seriamente o aumento das medidas de segurança e dos métodos de deteção de batota no tabuleiro”, explica Carlsen.
My statement regarding the last few weeks. pic.twitter.com/KY34DbcjLo
— Magnus Carlsen (@MagnusCarlsen) September 26, 2022
“Creio que Niemann tem feito mais batota – e mais recentemente – do que admitiu publicamente. A progressão dele no tabuleiro tem sido fora do comum. Ao longo do nosso jogo na Sinquefeld Cup, tive a impressão de que ele não estava tenso ou mesmo completamente concentrado”, acrescentou.
Carlsen diz que “algo deve ser feito acerta da batota”, uma vez que o campeão não quer “defrontar pessoas que jogaram repetidamente de forma menos limpa no passado, porque não sei o que serão capazes de fazer no futuro”.
“Até agora, apenas consegui exprimir-me com as minhas ações […] que dizem que eu não estou disposto a jogar xadrez com Niemann. Espero que a verdade sobre o assunto venha ao de cima, qualquer que ela seja”, diz ainda Carlsen.
Por sua vez, o jovem norte-americano rejeita as acusações de batota. Embora admita ter jogado menos limpo em duas ocasiões, através da ajuda do computador, garante que nunca o fez no tabuleiro — apenas na internet.
“Se eles quiserem que eu me ponha todo nu, eu faço-o”, atira o jogador de xadrez. Niemann chegou a ser acusado de usar um brinquedo sexual anal para receber informações sobre o adversário.
“Não me interessa, porque eu sei que estou limpo. Querem que eu jogue numa caixa fechada sem transmissão eletrónica, não me interessa. Estou aqui para ganhar e esse é o meu objetivo, independentemente [do resto]”, disse ainda o jovem norte-americano.
A verdade é que a Federação Internacional de Xadrez (FIDE) repreendeu Magnus Carlsen por abandonar a partida frente a Hans Niemann, apesar de partilhar as “profundas preocupações do número 1 do mundo sobre os danos que a trapaça traz ao xadrez”.
“Acreditamos firmemente que havia maneiras melhores de lidar com essa situação”, sublinha, no entanto, a FIDE num comunicado divulgado na passada sexta-feira.
“O Campeão Mundial tem uma responsabilidade moral ligada ao seu estatuto, já que é visto como um embaixador global do jogo. As suas ações têm impacto na reputação dos seus colegas, resultados desportivos e, eventualmente, podem ser prejudiciais ao nosso jogo”, lê-se ainda.
A novidade aqui é a acusação direta e de viva voz de Carlsen a Niemann, mas ficamos por aqui.
De que forma aconteceu a batota? Sem essa resposta parece-me que, a médio/longo prazo, a reputação do agora Campeão do Mundo, sofrerá com isso.
Magnus Carlsen não se pode ficar pelo: «A progressão dele no tabuleiro tem sido fora do comum» ou de que Niemann, não aparentava estar tenso durante o jogo, para colocar Niemann sob suspeita, até porque, em termos de reputação, o jogo está completamente desequilibrado. Tendo em conta o passado de Niemann, o mundo do xadrez que acreditar em Magnus Carlsen mas isso não quer dizer que esteja certo.
A não ser que a metodologia de ‘batota’ seja com base em tecnologias que não estão acessíveis aos comuns mortais, ou das quais nem se possa levantar suspeitas que conduzam à sua percepção sem se sofrerem consequências graves.