Super Terça-feira: Trump e Biden “limpam” quase tudo

Brainstorm Health, Gage Skidmore / Flickr

Joe Biden, Donald Trump

Trump garantiu o Utah e “esmagou” Nikki Haley — que vai anunciar desistência — em 14 dos 15 estados. Biden invicto nos 15 estados. Tudo aponta para um “déjà vu” na corrida à Casa Branca.

Tradicionalmente decisiva para as eleições presidenciais dos EUA, as eleições primárias dão, sem margem para grandes dúvidas, uma vitória esmagadora a Joe Biden e Donald Trump, candidatos no Partido Democrático e no partido Republicano que devem disputar o “trono” da Casa Branca, pela segunda vez, nas eleições de 5 novembro.

Quinze dos 50 estados do país votaram esta terça-feira, e os resultados mostraram o domínio dos dois candidatos.

Só Vermont e Samoa Americana fugiram

Trump garantiu a vitória em 14 dos 15 estados em jogo na Super Terça-feira, noticiou a agência Associated Press (AP).

O ex-presidente dos EUA “esmagou” a adversária republicana Nikki Haley em Massachusetts, Texas, Califórnia, Colorado, Virgínia, Alabama, Oklahoma, Tennessee, Carolina do Norte, Maine, Arkansas, Minnesota, Alasca e Utah. Só perdeu para a ex-embaixadora dos EUA nas Nações Unidas em Vermont.

Do lado democrata, o Presidente norte-americano Joe Biden venceu nos 15 estados na Super Terça-feira.

A única corrida perdida do lado democrata na terça-feira foi em Samoa Americana, um pequeno território dos EUA no sul do oceano Pacífico. Biden foi derrotado pelo candidato desconhecido Jason Palmer, por 51 votos contra 40.

A Super Terça-feira é o dia em que 15 estados e o território da Samoa Americana votam nas primárias para escolher os candidatos democratas e republicanos à Casa Branca, que este ano, salvo alguma surpresa, serão Biden e Trump.

Tradicionalmente, a Super Terça-Feira era um ponto de viragem na corrida presidencial, uma vez que são distribuídos mais de 35% dos delegados que escolhem os candidatos dos dois partidos, mas este ano ambas as nomeações estão praticamente fechadas.

Nikki Haley vai anunciar desistência

A candidata Nikki Haley deverá anunciar ainda esta quarta-feira o seu abandono da corrida das primárias presidenciais republicanas nos EUA, depois de ter perdido 14 dos 15 estados.

De acordo com fontes da campanha de Haley, citadas por vários ‘media’ norte-americanos, Haley decidiu abandonar a corrida presidencial e deverá fazer o anúncio formal da sua desistência ainda esta quarta-feira, deixando o ex-presidente Donald Trump sozinho no caminho para se tornar o candidato para as eleições de 05 de novembro.

Trump tem assegurados já 885 delegados dos 1.215 necessários para garantir a sua escolha na convenção do Partido Republicano, marcada para julho.

Nikki Haley, apesar de tudo, conseguiu evitar que Trump ganhasse em todos os tabuleiros da Super Terça-Feira, infligindo uma derrota ao ex-presidente no estado de Vermont, mas angariando apenas 46 delegados, ficando com um total de 89 delegados.

Com o seu abandono, falta saber de Haley pronunciará o seu apoio à candidatura de Trump, como já fizeram recentemente o governador Ron DeSantis e o empresário Vivek Ramaswamy, que entregaram os seus delegados ao ex-presidente.

Trump quer “destruir democracia”

Joe Biden afirmou que o ex-presidente Donald Trump está “determinado a destruir” a democracia do país.

“Está determinado a destruir a nossa democracia e a retirar direitos fundamentais como a capacidade das mulheres de tomarem as próprias decisões em matéria de cuidados de saúde”, considerou Biden, numa mensagem sobre os resultados das primárias da Super Terça-feira.

“Os resultados desta noite deixam o povo americano com uma escolha clara: vamos seguir em frente ou vamos permitir que Donald Trump nos arraste para trás, para o caos, a divisão e a escuridão que definiram o seu mandato?”, disse ainda Biden em comunicado.

O dirigente notou que há quatro anos, quando disputou a Casa Branca contra Trump, fê-lo “devido à ameaça existencial” que o magnata “representava para a América”.

“Se Donald Trump regressar à Casa Branca, todo este progresso está em risco. Ele é movido por ressentimento e rancor“, acrescentou.

Trump recorda três anos de “tareia” e “tristeza”

Já Trump disse que os resultados de terça-feira “são conclusivos” e significam que deve ser o candidato republicano.

Chamam-lhe ‘Super Terça-feira’ por uma razão e tem sido grande. Nunca houve um resultado mais conclusivo. Foi um dia e uma noite incríveis”, disse o ex-Presidente num evento público em Palm Beach, na Florida, na famosa mansão que detém no resort de luxo Mar-a-Lago.

No discurso de celebração, Trump tocou num dos temas favoritos, a imigração.

“Querem fronteiras abertas e as fronteiras abertas vão destruir o nosso país. Precisamos de fronteiras e precisamos de eleições livres e justas”, disse o político de 77 anos.

Trump também teceu duras críticas a Biden, afirmando que, graças ao presidente democrata, os Estados Unidos levaram “uma grande tareia nos últimos três anos”.

“O nosso país tem estado triste” e é por isso que as vitórias de hoje “vão ser inspiradoras”, afirmou. “Vamos fazer algo que ninguém foi capaz de fazer”, acrescentou.

Aversão a Trump: Republicanos votam em desistentes

A aversão ao ex-Presidente norte-americano levou vários eleitores republicanos de Richmond, capital da Virgínia, a votar em candidatos que já desistiram da corrida eleitoral primária como forma de protesto.

Na Biblioteca Pública de Richmond, o local de votação para a população residente no centro, Caroline, uma jovem de 23 anos, explicou à Lusa que votou no ex-governador de Nova Jérsia Chris Christie, um candidato que já abandonou a corrida primária republicana, mas que se tornou uma das vozes mais ‘anti-Trump’ dentro do Partido Republicano.

“A minha maior preocupação é a grande desigualdade que vemos neste país: uns com tudo, outros sem nada. Vemos um grande número de pessoas a viver nas ruas, enquanto uma pequena parcela controla todo o poder e todo o dinheiro”, observou Caroline, para quem Donald Trump representa tudo aquilo que rejeita e, como forma de protesto, decidiu votar em Christie, um grande opositor do ex-Presidente.

Da mesma forma, Patrick, um eleitor republicano de 34 anos, resolveu depositar o voto no governador da Florida, Ron DeSantis, também já fora da corrida primária republicana.

“Ron DeSantis era o melhor candidato e, apesar de eu saber que será Donald Trump a vencer, sinto que tenho de apoiar aquele que considero a melhor opção, a melhor pessoa, aquele que acredito que seria o melhor Presidente… e essa pessoa não é Donald Trump”, argumentou Patrick.

Democratas votam na eleição republicana

Outra tendência foi a de eleitores democratas que optaram, de forma estratégica, por votar na eleição republicana.

Ao contrário de muitos estados norte-americanos, uma das particularidades da Virgínia é que nesta “Super Terça-Feira” realizou primárias abertas, ou seja, eleitores democratas puderam votar em candidatos republicanos e vice-versa.

De acordo com analistas ouvidos pela Lusa, essa seria uma estratégia usada especialmente por eleitores democratas, que, dando como certa uma vitória do atual Presidente, Joe Biden, nas primárias do Partido Democrata, optaram assim por votar num candidato republicano que pudesse fazer frente a Donald Trump.

Jeff, um democrata de 62 anos, foi um dos eleitores a admitir ter recorrido a essa estratégia devido à forte rejeição que sente pelo magnata.

Hoje votei na Nikki Hailey para tentar manter Trump bem longe da Casa Branca. Na realidade, penso que ela não tem chances de vencer, mas mesmo assim quis fazer a minha parte e tentar manter Trump fora da Presidência”, sublinhou.

“Apesar de saber que muita gente não está entusiasmada com esta eleição e com os candidatos disponíveis no boletim de voto, eu estou bastante entusiasmado. De facto, acho que Joe Biden colocou este país no caminho certo e gostaria que lhe déssemos mais quatro anos. Acredito que coisas boas iriam acontecer. Mas, se Trump vencer novamente, acho que o país voltará a ser a América da década de 1950, com homens ricos e brancos a dominarem todos os setores”, disse à Lusa.

Outra eleitora que não quer imaginar Donald Trump de regresso à Casa Branca é Michele, uma democrata de 65 anos, que não poupou críticas ao candidato favorito do eleitorado republicano.

“Donald Trump é um criminoso, ele já fez tanto mal ao nosso país, ele mentiu-nos sobre os seus negócios, provocou o ataque ao Capitólio em 06 de janeiro de 2021, tentou reverter resultados eleitorais. E, mesmo assim, há imensas pessoas que estão completamente cegas e que continuam a apoiar este homem”, lamentou.

“Trump só quer saber dele próprio e dos ricos. Como é que alguém consegue votar num homem que só promove o ódio, a raiva e maus hábitos? Ele não é honesto com o povo americano, não está a lutar por este país. Ele só luta pelos seus próprios interesses, ao contrário de Joe Biden, que efetivamente se preocupa com o bem coletivo”, argumentou Michele.

ZAP // Lusa

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