Sudão. Militares no poder e líderes dos protestos chegam a acordo para compor governo transitório

Marwan Ali / EPA

Um dos manifestantes nos novos protestos em Cartum, Sudão, para exigir a transição para um governo civil

A junta militar no poder e os líderes dos protestos no Sudão chegaram esta sexta-feira a um acordo sobre a composição do órgão que deverá dirigir o próximo período de transição, que terá a duração de três anos. Direção alternada é a solução encontrada para a governação do país.

Segundo avançou o Expresso, graças à mediação da Etiópia e da União Africana (UA), ambos os lados solucionaram finalmente o seu principal ponto de discórdia: a liderança do conselho soberano.

O conselho militar de transição, que dirige o país, e a Aliança para a Liberdade e Mudança (ALM), que encabeça os protestos, “concordaram” com uma direção “alternada” da instância que vai liderar um período de transição de cerca de três anos, anunciou o mediador da UA, Mohamed El Hacen Lebatt, em conferência de imprensa.

De acordo com um plano de transição desenhado pelos mediadores, aquela autoridade deverá ser inicialmente presidida por um militar durante 18 meses, a que se seguirá um civil até ao final da transição. O conselho será formado por seis civis – cinco deles apontados pela ALM – e cinco militares, revelou à APF um líder dos protestos.

Os dois lados também acordaram a realização de “uma investigação completa, transparente, nacional e independente dos vários incidentes violentos e lamentáveis nas últimas semanas”, acrescentou o mediador da UA.

Os líderes dos protestos exigiam uma investigação independente e internacional sobre a dispersão sangrenta dos manifestantes concentrados no exterior do quartel-general do Exército, a 03 de junho, que fez mais de uma centena de mortos, segundo médicos próximos da contestação, e 61 mortos, de acordo com as autoridades.

STR / EPA

Por fim, os militares e os manifestantes concordaram em “atrasar” o estabelecimento de um “conselho legislativo”, que deveria funcionar como um Parlamento de transição, até que sejam formados o conselho soberano e um Governo civil.

O número dois do conselho militar, o general Mohamed Hamdan Dagalo, saudou o acordo, afirmando: “Queremos assegurar a todas as forças políticas e a todos os que participaram na mudança que este acordo será completo, não excluirá ninguém e incluirá todas as ambições do povo”.

Na quinta-feira, 235 membros de um grupo rebelde, que se autodenomina Exército de Libertação do Sudão e que é uma fação da ALM, foram libertados de uma prisão de Ondurmã, uma cidade vizinha da capital sudanesa, Cartum. Os militantes foram recebidos pelas suas famílias na sequência de uma “amnistia” concedida pelo chefe do conselho militar, o general Abdel Fattah al-Burhane.

Apesar de servir de mediadora, poucos dias após a repressão do início de junho, a UA suspendeu a participação do Sudão nas atividades da organização, “com efeito imediato”, “até ao estabelecimento efetivo de uma autoridade de transição liderada por civis”.

Esta era, segundo a UA, “a única saída para a atual crise”, sendo também a reivindicação principal dos manifestantes desde a deposição do Presidente Omar al-Bashir em abril, ao fim de três décadas no poder e após meses de protestos.

TP, ZAP //

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