Sturgeon está de saída. O que muda na luta pela independência na Escócia?

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A primeira-ministra demissionária da Escócia, Nicola Sturgeon

A saída de Nicola Sturgeon abre porta a várias dúvidas e mudanças de abordagem dentro do principal partido independentista da Escócia.

A demissão inesperada de Nicola Sturgeon do cargo de primeira-ministra da Escócia levanta muitas questões sobre o futuro da luta escocesa pela independência.

Apesar de uma onda recente de polémicas sobre o projecto de lei sobre a mudança de género aos 16 anos, a insistência do SNP sobre a realização de um novo referendo à independência e uma investigação financeira ao partido, não havia indicação clara de que Sturgeon iria desistir.

A saída do principal rosto do independentismo abre agora muitas dúvidas sobre a trajectória futura do movimento.

Após o Supremo Tribunal britânico ter rejeitado o pedido do governo escocês para poder legislar a convocação de um novo referendo à independência, os planos do SNP viraram-se para a próxima eleição geral no Reino Unido em 2024, que querem que sirva como um novo referendo informal.

O líder da bancada parlamentar do SNP, Stephen Flynn, defende que a conferência especial que estava marcada para o próximo mês focada neste plano de Nicola Sturgeon deve ser adiada até que haja um novo líder.

“Acho sensato carregarmos no botão de pausa na conferência e permitir que o novo líder tenha a oportunidade de nos mostrar a sua visão, os seus valores e as suas intenções para o futuro”, argumenta.

Mike Russell, presidente do SNP, que apoia a proposta de Sturgeon, também considera que a sua discussão deve ser adiada. “Acho que é uma questão que precisa de ser discutida”, afirma.

Apesar de Russell estar ao lado de Sturgeon, a proposta é pouco popular entre os eleitores e está a ser muito criticada por outros membros do SNP. O timing da saída de Sturgeon também não é coincidência, já que a líder demissionária admitiu que seria desonesto chefiar a conferência quando sabia que se iria demitir em breve, relata o The Guardian.

O futuro do movimento independentista

Três primeiros-ministros conservadores (Theresa May, Boris Johnson e Rishi Sunak) recusaram conceder ao parlamento escocês autoridade para realizar outro referendo de independência, dizendo que “agora não é o momento”.

Esta oposição, aliada à decisão do Supremo birtânico, levou a uma divisão dentro do SNP sobre como alcançar a independência. Sturgeon anunciou que o seu “plano C” era abordar a próxima eleição geral como um referendo sobre a independência.

A proposta foi recebida com reações mistas de dentro do SNP, de outros movimentos nacionalistas e do público em geral. O deputado Stewart McDonald foi particularmente crítico, destacando este movimento como prejudicial para o movimento de independência. A Alba Party de Alex Salmond também criticou muito o plano.

Por mais dominante que o SNP tenha sido na política escocesa na última década, ele nunca garantiu mais de 50% dos votos na Escócia em qualquer eleição geral do Reino Unido. Nenhum partido alcançou este nível de apoio na Escócia desde a década de 1950, embora o SNP tenha chegado muito perto nas eleições gerais de 2015 no Reino Unido.

Não ganhar 50% dos votos na próxima eleição significaria que o SNP teria perguntas difíceis para responder sobre o Plano C e o futuro da discussão sobre a independência. A renúncia de Sturgeon abre a porta para uma reconsideração dessa abordagem.

E enquanto Sturgeon enfatizou que não está a sair por causa de pressões políticas recentes, houve questões que tornaram as suas últimas semanas particularmente controversas, principalmente, o projeto de lei de reforma do reconhecimento de género, que o governo do Reino Unido impediu de receber o consentimento real. Esta foi a primeira vez que o governo do Reino Unido interveio para impedir que a legislação aprovada por qualquer órgão descentralizado se tornasse lei.

Para os membros e apoiantes do SNP, isto faz parte de uma intransigência e interferência política contínua do governo do Reino Unido. As implicações para as relações intergovernamentais dentro do Reino Unido não são totalmente claras, mas a relação entre Holyrood e Westminster tornou-se ainda mais fria.

Quem vai suceder a Sturgeon?

Embora Nicola Sturgeon não tenha falado de candidatos e tenha prometido não se envolver na escolha do sucessor, sublinhou que o nacionalismo está “cheio de gente talentosa”. A imprensa britânica já refere possíveis candidatos.

O primeiro nome da lista é John Swinney, atual vice de Sturgeon, considerado um dos seus colaboradores mais próximos. Em anos de experiência no Governo e no SNP, só a própria demissionária o supera.

Swinney foi líder interino do partido no início deste século, após a primeira renúncia de Alex Salmond (antecessor de Sturgeon), embora a sua trajetória tenha sido turbulenta. Deixou o cargo porque o líder histórico regressou.

Um segundo concorrente é Angus Robertson, veterano da “era Salmond” que foi líder parlamentar do SNP na Câmara dos Comuns entre 2007 e 2017. O partido chegou a ter 56 dos 59 lugares que correspondem à Escócia, um êxito eleitoral sem precedentes para o nacionalismo. Em contrapartida, é impopular na ala esquerda do partido devido ao seu apoio à NATO.

O terceiro nome é Kate Forbes, de 32 anos, ministra regional das Finanças, actualmente em licença de maternidade. É vista como “sangue novo” para o nacionalismo e, caso vença, será a a líder mais jovem de história do partido. No entanto, as suas crenças religiosas públicas chocam com algumas das políticas progressistas do SNP sobre os direitos dos homossexuais e transgénero.

Humza Yousaf é o quarto da lista. Responsável pela pasta da Saúde no executivo regional, está longe do pico de popularidade devido à crise que afeta o serviço nacional de saúde do Reino Unido. Ainda assim, conta como trunfo poder encarnar uma Escócia inclusiva: é líder proeminente da comunidade muçulmana e defensor de outras minorias étnicas.

Neil Grey é outro putativo candidato à liderança do SNP. Embora tenha apenas dois anos de experiência como deputado no parlamento regional de Holyrood, esteve antes na Câmara dos Comuns, em Westminster (Londres). No último ano, ganhou peso no executivo como líder do programa de refugiados da guerra na Ucrânia.

A lista inclui ainda Stephen Flynn, que substituiu Ian Blackford como líder parlamentar do SNP em Londres, no que foi interpretado como mudança geracional. Flynn apoiou Sturgeon na intenção de fazer das eleições legislativas britânicas, marcadas para 2024, um “referendo de facto” à independência. No entanto, a maioria dos escoceses rejeita tal abordagem. Contudo, o deputado já afirmou que não está interessado em concorrer à liderança.

Mairi Mcallan é o último nome da lista de candidatos aventados pela imprensa britânica. Trabalhou em estreita colaboração com Sturgeon como consultora especial para o Ambiente, Biodiversidade e Reforma Agrária e, desde 2021, tem-se destacado como deputada regional. A sua juventude (tem 30 anos) é encarada como desvantagem, mas é alguém que terá algo a dizer no futuro do SNP.

O comité nacional do SNP vai reunir online às 18h30 esta quinta-feira para discutir as datas para a corrida à sucessão de Sturgeon.

Adriana Peixoto, ZAP // Lusa

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