Uma recente investigação sugere que o interior das estrelas pode conter buracos negros e que a sua massa extra pode ajudar a explicar os estranhos efeitos gravitacionais do Universo, até então atribuídos à matéria escura.
Foi em 1971 que o físico Stephen Hawking se deparou com a falta de partículas de alta energia provenientes do Sol, um problema que poderia ser resolvido caso a nossa estrela albergasse um pequeno buraco negro formado no início do Universo – o chamado buraco negro primordial.
Quando o problema dos neutrinos solares foi resolvido, em 2001, o interesse por estrelas que hospedam buracos negros rapidamente caiu no esquecimento. Até agora.
Earl Bellinger, investigador do Instituto Max Planck, e a sua equipa ressuscitaram a teoria de Hawking como uma possível explicação para a matéria escura e calcularam os efeitos que os buracos negros primordiais de diferentes massas podem ter na evolução da sua estrela hospedeira.
No caso do Sol, os investigadores começaram por excluir os buracos negros com massas mais pequenas do que um asteróide, dado que estes não cresceriam nem teriam efeitos mensuráveis, e os maiores do que o próprio Sol, porque devorariam rapidamente a sua estrela.
Decidiram, então, centrar a sua pesquisa nos buracos negros com uma massa igual ou superior à de Mercúrio, que poderiam acumular matéria e crescer, mas não muito depressa.
No fundo, um buraco negro capaz de sugar o combustível do Sol a partir do interior faria a estrela crescer, produzindo uma luz poderosa que empurraria para fora as suas camadas exteriores. Isto, ao longo de milhões de anos, arrefeceria a temperatura abaixo da necessária para a fusão nuclear, a reação que mantém uma estrela estável.
O efeito de arrefecimento faria com que toda a estrela se tornasse caótica, acabando por se transformar num tipo raro de estrela invulgarmente fria, designada por “red straggler“. Além disso, um buraco negro no centro de uma estrela vermelha também a faria pulsar de uma forma única.
O facto de as estrelas que albergam buracos negros pulsarem desta forma significa que é improvável que o nosso Sol seja uma delas, porque já teríamos visto esta assinatura. Ainda assim, não é impossível.
Segundo a New Scientist, um buraco negro suficientemente pequeno para criar uma assinatura difícil de detetar poderia ainda assim afetar a evolução do Sol.
O corpo poderia ser capaz de baixar a temperatura da nossa estrela, evitando que a Terra fosse engolida quando esta acabasse por ficar sem combustível e se transformasse numa gigante vermelha. Contudo, ainda ficaria suficientemente quente para “ferver” os oceanos e matar toda a vida.
Se os cientistas forem capaz de encontrar outras estrelas que albergam buracos negros primordiais, poderão ajudar a explicar o misterioso fenómeno da matéria escura, que é o que se pensa estar na origem dos efeitos gravitacionais inexplicáveis que vemos no Universo – como o facto de as galáxias girarem mais depressa do que o esperado com base na influência da matéria visível.
Se os buracos negros estiverem escondidos no interior de estrelas, a sua massa extra poderá contribuir para explicar este efeito.
O artigo científico foi publicado, em dezembro, no The Astrophysical Journal.