No espaço de uma década, Snowball, a catatua dançarina, passou de uma sensação da Internet para uma maravilha científica. A forma como a ave se movimenta fez um grupo de cientistas repensar a própria natureza da dança.
Segundo os cientistas, “dançar” requer um movimento espontâneo que acompanha uma determinada batida musical. O comportamento está presente em qualquer cultura humana, mas, surpreendentemente, muito poucos animais são capazes de se juntar a nós na pista de dança.
Em 2013, o leão-marinho Rona tornou-se no primeiro mamífero não humano conhecido por dançar, balançando a cabeça ao som da banda norte-americana Backstreet Boys. Mas os dotes de Snowball são ainda mais admiráveis, destaca o Science Alert.
Para que Rona fosse capaz de brilhar, alguém teve de lhe ensinar a movimentar a cabeça de um lado para o outro. No entanto, ao contrário do leão-marinho, Snowball parece ter inventado todo o repertório por conta própria.
Os cientistas afirmam que a ave é capaz de balançar de um lado para o outro, rodar o corpo, abanar a cabeça e fazer alguns movimentos envolvendo várias partes do corpo, tal como é possível observar nos vários vídeos que podemos encontrar no YouTube com as performances desta catatua dançarina.
Fascinada com a ave, uma equipa de neurocientistas decidiu estudar de perto o seu estranho e bizarro comportamento. Através de vários vídeos filmados pela sua dona, Irena Schultz, desde 2008, os investigadores conseguiram identificar 14 movimentos individuais e duas combinação. O artigo científico foi publicado no dia 8 de julho na Current Biology.
O estudo “mostra, pela primeira vez, que outra espécie é capaz de dançar a música dos seres humanos, espontaneamente e sem treino, apenas com base no seu próprio desenvolvimento e interação social com os humanos“, explicou à AFP um dos coautores do estudo, Aniruddh Patel, psicólogo nas Universidades de Tufts e Harvard, nos Estados Unidos.
Para estudar o comportamento cada vez mais criativo do pássaro, Patel e a sua equipa expuseram Snowball a sucessos musicais dos anos 80 – como Another One Bite the Dust, dos Queen, ou Girls Just Want to Have Fun, de Cyndi Lauper -, três vezes cada música, durante 23 minutos. E como não poderia deixar de ser, filmaram cada segundo.
Uma observação plano a plano possibilitou a identificação de 14 movimentos distintos e dois movimentos combinados. “São movimentos muito complexos”, afirmou Aniruddh Patel. “Quem me dera conseguir dançar como Snowball”, acrescentou.
Além de a catatua ter evoluído na sua arte, o mais interessante para os cientistas é a diversidade de movimentos. Os papagaios são conhecidos pela sua habilidade de copiar humanos, mas há boas razões para pensar que os novos movimentos de dança de Snowball estão além do simples mimetismo: durante o estudo, nenhum humano estava presente na sala.
Muitas vezes, os movimentos rítmicos da catatua pareciam pouco sincronizados com a batida, “possivelmente porque Snowball estava a explorar novos movimentos em vez de repetir os antigos”, escreveram os autores da nova investigação.
Além disso, “Snowball não dança por comida ou para se acasalar; em vez disso, a sua dança parece ser um comportamento social usado para interagir com os cuidadores humanos”.
Certo é que dos Queen a Cyndi Lauper, passando pelos célebres Backstreet Boys e até por Freddy Mercury, a pista de dança já tem uma rainha: chama-se Snowball e é uma catatua.