Investigadores portugueses e galegos descobriram 25 novos sítios no Norte de Portugal e na Galiza que “comprovam arqueologicamente” a presença militar romana nos dois territórios, correspondendo a maioria dos locais a “acampamentos militares”, revelou hoje o responsável.
Em declarações à agência Lusa, João Fonte, investigador do grupo científico Romanarmy.eu, explicou que o estudo, publicado na revista científica “Mediterranean Archaeology and Archaeometry”, permitiu, pela “primeira vez”, recolher evidência arqueológica sobre a passagem do exército romano no Norte de Portugal e na Galiza.
“Até à data simplesmente só tínhamos informação sobre a presença dos militares romanos nestes territórios pelas fontes escritas”, afirmou, adiantando que a descoberta destes 25 novos locais só foi possível através de tecnologias de informação geográfica, como fotografias aéreas, imagens de satélite e sistemas de localização.
Os investigadores identificaram por isso cinco tipologias de locais, tais como pequenos recintos, que albergavam entre 100 a 1.500 militares, acampamentos de tamanho médio que hospedavam dois a quatro mil soldados, grandes acampamentos, recintos que excedem os 20 hectares e fortificações estacionais de pequeno tamanho.
Segundo João Fonte, entre os novos locais, destacam-se quatro recintos em território nacional: a Lomba do Mouro, em Melgaço, o Alto da Pedrada, em Arcos de Valdevez, o Alto da Cerca, em Valpaços, e outro local em Vila Nova de Cerveira que, atualmente, é um parque industrial.
“A Lomba do Mouro e o Alto da Pedrada estão muito bem conservados por estarem dentro da área do Parque Nacional da Peneda-Gerês e por não terem tido grande impacto antrópico”, salientou o investigador.
João Fonte acredita que o local encontrado na Lomba do Mouro, que tem cerca de 25 hectares, poderá ter albergado “um verdadeiro corpo de exército”, 10 mil a 15 mil soldados, durante o século II e I a.C. (antes de Cristo), nomeadamente durante a época romana “tardo-republicana”.
Quanto ao recinto encontrado no Alto da Pedrada, que tem um hectare, o investigador afirmou que poderá ter acolhido “cerca de mil soldados” durante o final do século I a.C.
“Podemos ter aqui dois momentos históricos diferentes, apesar dos dois locais terem um caráter claramente temporário porque, além da muralha, não parecem existir estruturas permanentes no interior e estão em zonas de montanha, onde a passagem era muito difícil, assim como o inverno”, garantiu.
Relativamente ao novo local no Alto da Cerca, em Valpaços, João Fonte explicou que este poderá estar associado a um “caráter mais permanente”, nomeadamente ao “primeiro momento de exploração mineira naquela zona”.
Apesar das evidências arqueológicas encontradas, a equipa de investigadores pretende agora “trabalhar esses locais”, uma vez que é ainda necessário “saber quais os momentos históricos a que se referem, e contextualizá-los”.
“Precisamos de datar e caracterizar estes locais (…) já estamos a contactar as autarquias de Melgaço e de Arcos de Valdevez, porque o nosso objetivo para o próximo ano é trabalhar estes dois locais”, referiu.
À Lusa, João Fonte adiantou que o objetivo da equipa passa por, durante a primavera e verão do próximo ano, arrancar com a primeira campanha nos diferentes locais para “validar o caráter e cronologia” dos mesmos.
“Se os primeiros resultados forem promissores, aí sim, vamos tentar avançar com um projeto mais amplo e, até pode ser que surjam outros sítios, porque a identificação destes locais ainda não terminou”, concluiu.
// Lusa