Entre 10% e 20% das pessoas infectadas pelo coronavírus ficam com “marcas”, três meses depois – ou até mais.
Obviamente, numa doença que ainda é recente, ainda falta conhecer muito a nível científico sobre a COVID-19.
A Organização Mundial de Saúde indica que entre 10% e 20% das pessoas infectadas pelo coronavírus ficam com “marcas”, três meses depois da infecção – ou mais.
O jornal Público tentou perceber quais são as consequências mais frequentes, associadas à denominada covid longa.
No cérebro, há casos em que demasiadas sinapses são eliminadas – as sinapses fazem a comunicação entre os neurónios do cérebro. Sendo eliminadas, surge uma espécie de “nevoeiro cerebral”, que pode danificar a memória e alterar a capacidade cognitiva.
A resposta de células dos organóides à infecção criada pelo coronavírus é semelhante a doenças neurodegenerativas. Ou seja, admite-se a ligação entre a COVID-19 e o aumento do risco de doenças neurológicas.
O já conhecido “neuro-covid” – sistema nervoso afectado pela doença – também já começou a afectar muitos doentes.
Há casos de enfraquecimento da barreira hematoencefálica, uma estrutura protectora do sistema nervoso central, que origina uma espécie de “tempestade de citocinas”: as moléculas que transmitem sinais durante a resposta imunitária. Mais citocinas são sinónimo de maior inflamação na resposta ao vírus.
Noutros casos, nas pessoas com sintomas neurológicos mais graves, uma das áreas do cérebro mais afectadas foi o córtex olfactivo – responsável pelo cheiro.
Os pulmões também podem ficar afectados. E têm ficado afectados. Ficam pequenos coágulos e formam-se vasos sanguíneos através do mecanismo “angiogénese intussusceptiva”, que aumenta muito numa pessoa infectada pelo coronavírus.
Nos EUA, 11% dos doentes hospitalizados devido a COVID-19 ficaram com doenças pulmonares intersticiais, mesmo depois de terem recuperado dessa doença. Sintomas: pulmões com cicatrizes, dificuldade na respiração e na distribuição de oxigénio na corrente sanguínea. E quem passou por COVID-19 grave poderá ter depois fibrose pulmonar.
E, ainda sobre pulmões, há doentes que ficam com anomalias menos comuns, mais “escondidas”, só detectáveis com métodos actualizados, modernos.
O coração também pode ser envolvido nesta sequência. Doentes com COVID-19 correm maior risco de ter inflamações no músculo do coração, ritmos cardíacos fora do normal, coágulos sanguíneos ou ataques cardíacos – pelo menos um ano após a infecção.
Sintomas frequentes no pós-infecção: dor de peito, dificuldades respiratórias, dores musculares ou cansaço.
E uma indicação final: adultos, idosos, crianças, adolescentes… Todos podem ser “vítimas” da covid-longa.