Cidade siciliana quer tudo ‘limpo’ antes de se tornar Capital da Cultura de 2025 e já publicou uma proposta irrecusável: produtos a vangloriar a Cosa Nostra estão banidos.
A próxima Capital Italiana da Cultura falou: já não queremos ‘esta nossa coisa’.
A cidade siciliana de Agrigento fartou-se de ser associada a associações criminosas e proibiu a venda de lembranças com a temática da Máfia.
Reconhecida como Património Mundial pela UNESCO, Agrigento, que se vai tornar a Capital Italiana da Cultura 2025, é conhecida pela sua rica história arqueológica que remonta ao século VI a.C, mas o seu tesouro é há muito — pelo menos, desde o século XIX — ofuscado pela associação de Sicília à Máfia, que ainda hoje opera na maior ilha do Mediterrâneo.
Nos últimos anos, as lojas locais lucram com a venda de lembranças que ilustram personagens do famoso filme “O Padrinho”, um símbolo da cultura mafiosa italo-americana que foi gravado, parcialmente, na ilha italiana.
De ímanes a cerâmicas ou t-shirts, os padrinhos da trilogia estão em todo o lado naquela ilha que é o berço da Máfia, segundo o jornal italiano Sky TG24. A ‘souvenir’ mais comum é a que retrata o estereótipo clássico do siciliano, vestido de preto, com uma coppola e uma lupara e com u mafiusu escrito. E não só.
Nas ruas de Sicília veem-se frequentemente estatuetas de um casal num carro com as cores italianas, ambos com uma caçadeira de canos serrados aos ombros, ou as estatuetas de pai, mãe e filho com a legenda “família mafiosa”. Tudo isso vai acabar.
O Presidente da Câmara Francesco Miccichè está a fazer uma proposta irrecusável: declarou “em todo o território municipal, a proibição da venda de qualquer tipo de objeto, lembranças ou dispositivos que glorifiquem ou simplesmente se refiram ‘em termos positivos’, de qualquer modo ou forma à máfia e ao crime organizado”.
O objetivo é deixar claro que o grupo de crime organizado não é bem-vindo nem celebrado na pequena cidade, combater os estereótipos negativos e reduzir o impacto cultural da máfia — mas os seus não são os primeiros passos de combate siciliano à ‘cosa nostra’.
Nas lojas de recordações dos aeroportos e ferries que atracam em Sicília, a venda de artigos que ilustrem Don Corleone e companhia já são proibidos desde 2023 pelo governo regional, de acordo com os meios de informação locais.
Quem for visto a vender produtos que glamourizem a Máfia, arrisca-se agora a ser multado.
“Considerando que a venda de tais produtos no território de Agrigento mortifica a comunidade de Agrigento, que desde há anos se empenha em difundir a cultura da legalidade, ordena-se que seja proibida a venda de qualquer tipo de objeto que glorifique ou recorde, de qualquer forma ou maneira, a Máfia e o crime organizado. Não faltarão controlos e, em certos casos, até multas. A polícia municipal terá de supervisionar a aplicação da medida”, escreve o autarca.
A declaração de guerra à vangloriação do crime organizado não acontece só em Itália. No mês passado, um novo projeto de lei na Colômbia visou as t-shirts, chapéus, quadros, copos de shots e ímanes com o icónico líder do cartel de Medellín, Pablo Escobar.
Serão cerca de 150 euros de multa para quem continuar a vender produtos relacionados com narcotráfico, caso os legisladores aprovem um projeto de lei apresentado no Congresso.
Os turistas não se livram: os que forem vistos a usar algum destes produtos poderão ser abordado pelas autoridades, mas ainda não se sabem mais contornos sobre a atuação da polícia sobre os viajantes infratores.
E fazem muito bem.
Glorificação de criminosos não é aceitável.