“Todos os seus produtos são cópias dos nossos”. A gigante chinesa da fast fashion online Shein interpôs num tribunal de Washington uma ação judicial contra a Temu, sua principal concorrente, com acusações graves de contrafação e plágio — acusações de que a Shein, curiosamente, tem sido alvo recorrente.
A guerra entre a Shein e a Temu, as duas mais importantes e populares plataformas online de comércio de retalho na China, acaba de conhecer um novo capítulo, conta o El Confidencial.
A Temu, já considerada uma espécie de “Amazon com esteroides“, acusou recentemente a sua concorrente de pressionar os seus fornecedores a não trabalharem com ela.
A Shein, que se tornou nos últimos anos um dos gigantes do sector da fast fashion, acusou por sua vez a Temu de usar influencers para divulgar informações negativas sobre a sua marca.
Embora ambos os processos tenham sido arquivados no fim do ano passado, a rivalidade entre as empresas não cessou.
Agora, reporta a CNBC, a Shein interpôs num tribunal de Washington, EUA, uma ação judicial contra a Temu, sua concorrente direta e principal ameaça, que acusa de uma série de práticas ilegais graves.
As alegações incluem roubo de segredos comerciais, publicidade enganosa e contrafação de produtos — curiosamente, acusações de que a própria Shein tem sido alvo.
Em 2023, o México acusou a empresa de plagiar a cultura nahua, depois de em 2021 a gigante chinesa ter estado envolvida numa série de acusações de plágio por “copiar designers portugueses“.
A queixa da Shein, a que a CNBC teve acesso, tem um total de 80 páginas e inclui alegações como “para enganar os consumidores, a Temu deu instruções aos seus influenciadores pagos nas redes sociais para afirmarem que os produtos Temu, que são frequentemente contrafacções dos produtos Shein, são mais baratos e de melhor qualidade”.
A ação acrescenta ainda que “a Temu fez tudo o que estava ao seu alcance para imitar a Shein, incluindo roubar recursos, empregados e fornecedores“.
A Shein acusa também a Temu de ter articulado um plano para entrar no mercado dos EUA usando métodos “pouco éticos“.
Entre as acusações está o facto de a Temu ter alegadamente incentivado os vendedores da sua plataforma a violar direitos de propriedade intelectual, o que resultou na venda de produtos contrafeitos ou de qualidade inferior.
A Shein alega ainda que a Temu usou a sua marca e fotografias em anúncios nas redes sociais e nos motores de busca para enganar os consumidores e direcioná-los para a sua própria plataforma.
Além disso, a ação judicial acusa a Temu de se apropriar indevidamente de informações confidenciais da Shein sobre produtos e preços, informações essas que terão sido obtidas através de práticas de espionagem industrial.
Uma das alegações mais graves é a de que a Temu, para atrair clientes, está alegadamente a vender produtos a preços tão baixos que perde dinheiro em cada transação — uma acusação de dumping, que nos Estados Unidos é considerado um crime económico grave.
Segundo a Shein, esta estratégia agressiva de fixação de preços baseia-se alegadamente na violação dos direitos de propriedade intelectual de outras empresas, o que permite à Temu oferecer produtos por montantes extraordinariamente baixos.
A resposta da Temu foi rápida. A empresa, que tem vindo a ganhar terreno no mercado norte-americano desde 2022, defende que as suas práticas comerciais são legítimas e que as alegadas perdas da Shein são o resultado da concorrência e não de atividades ilegais.
A Temu considera as acusações “infundadas” e acusa a concorrente de tentar desviar as atenções dos seus próprios problemas legais.
Com efeito, a Shein está a ser investigada pelo governo dos EUA por acusações de plágio, impacto ambiental e “táticas de intimidação ao estilo da máfia” — acusações que deixam a empresa em maus lençóis.
Aparentemente alheia a estas acusações, a Shein parece verdadeiramente incomodada por ver a Temu replicar as suas réplicas originais — como lhe chamaria uma cantora portuguesa recentemente arguida num caso de contrafação. Resta saber se a Temu terá 100 anos de perdão.