Cópias, impacto ambiental e “táticas de intimidação ao estilo da máfia” deixam a chinesa em maus lençóis. Governo está a investigar reclamações da concorrência enquanto decorre uma batalha legal com a Temu nos EUA.
A marca chinesa Shein faz sucesso no mundo inteiro graças aos seus preços extremamente baixos e à grande variedade de ofertas. No entanto, a sua ascensão no mercado de moda rápida não está isenta de problemas.
No Japão e nos EUA, a empresa de vestuário online enfrenta problemas com a justiça devido a reclamações dos seus concorrentes; na China, o governo já está a investigar a marca.
A expansão colocou a Shein no centro do furacão num momento em que a empresa procura entrar no mercado de ações.
A loja de roupas japonesa Uniqlo está a processar a marca por alegadamente copiar uma das suas malas, apelidada de ‘Mary Poppins’. O processo exige que a Shein pare de vender o seu produto, que, segundo a Uniqlo, é muito semelhante à sua mini mala de ombro.
É uma cópia “inferior e ilegal”, alegou a japonesa. A mala ficou famosa nas redes sociais por ser compacta e, ao mesmo tempo, muito espaçosa. Daí o apelido ‘Mary Poppins’: no filme protagonizado por Julie Andrews, a ama tira centenas de objetos da sua mala mágica.
Fundada na China mas com sede em Singapura, a Shein não comentou o processo até ao momento. Já a Uniqlo afirmou esta quinta-feira que procura uma indemnização de cerca de um milhão de euros pelo que considera ser uma violação da sua propriedade intelectual.
Guerra legal contra o rival nos EUA
A loja Temu também é uma plataforma de compras online em rápido crescimento. Enquanto a Shein detém a maior participação no mercado de moda rápida dos EUA, a empresa chinesa Temu tornou-se a aplicação mais descarregada do país no ano passado.
Em poucos meses, a Temu deixou a sua marca nos EUA e o seu negócio cresceu rapidamente. O seu modelo de negócio aproxima-se de nomes como a Amazon, onde as estratégias incluem a comercialização direta da fábrica, com preços mais baixos que a concorrência.
A marca rivalizou diretamente com a Shein nos EUA, e os dois gigantes estão agora numa batalha judicial.
A Shein processou a Temu, alegando que a empresa contratou influenciadores digitais para fazer comentários desfavoráveis contra a sua marca nas redes sociais. Já a Temu denunciou a sua rival perante o sistema de Justiça dos EUA por alegado roubo de propriedade intelectual e por violar a lei antitrust do país ao impedir que os seus fornecedores trabalhassem com a concorrente.
A Temu alegou que a Shein usou supostas “táticas de intimidação ao estilo da máfia” para forçar os seus fornecedores a terminar relações com a empresa. A loja classificou o processo como “sem mérito” e prometeu uma contraofensiva legal. “Acreditamos que este processo não tem mérito e vamos defender-nos vigorosamente”, disse a marca.
Investigação na China
Ao mesmo tempo, o governo chinês está a conduzir uma revisão das práticas de manipulação e partilha de dados da empresa, de acordo com o The Wall Street Journal.
O órgão regulador da Internet chinesa está a estudar como a Shein trata as informações dos seus parceiros, fornecedores e trabalhadores na China e se a empresa tem capacidade para proteger esses dados, segundo o jornal, que ouviu de fontes próximas do assunto.
O governo também estaria interessado no tipo de dados recolhidos na China que a empresa divulgará aos reguladores nos EUA, já que a Shein pretende abrir o seu capital no país. A marca não comentou o assunto.
Impacto ambiental e cópia de trabalhos
Muito popular entre os jovens, a Shein tem sido criticada pelo seu modelo de negócio de moda rápida baseado na produção de um grande volume de peças de vestuário, com muita rotatividade e a preços muito baixos, o que gera um forte impacto ambiental.
As críticas mais duras vêm de investigações jornalísticas que acusam a marca de trabalhar com fornecedores que violam as leis laborais.
A empresa defende-se dizendo que tem realizado “auditorias internas periódicas” e que opera um código de conduta “estrito” que cumpre a lei. “Quando são detetadas violações, tomamos medidas adicionais, que podem incluir a rescisão”, afirmou a Shein.
Sobre os direitos de propriedade intelectual, a marca tem sido criticada por alegadamente copiar o trabalho de designers pouco conhecidos, acusação que a Shein nega.
Até o governo do México denunciou em julho de 2023 que a empresa chinesa reproduziu sem autorização elementos de desenhos indígenas “em várias peças”.
Em Portugal, a marca esteve envolvida numa polémica por acusações de plágio em 2021.
Um executivo sénior da Shein disse à BBC no final de 2021 que têm uma equipa que analisa os novos designs oferecidos pelos seus fornecedores antes de serem oferecidos no seu site, para tentar filtrar possíveis imitações.
Desde o seu lançamento em 2008, a empresa, fundada pelo empresário chinês Chris Xu, tornou-se um dos maiores mercados de moda online do mundo.
Em 2022, o seu valor de mercado foi estimado em cerca de 100 mil milhões de dólares (cerca de 92 mil milhões de euros), embora essa estimativa tenha caído significativamente durante uma ronda de angariação de fundos no ano passado.
ZAP // BBC