Ser ignorante é uma escolha que 40% das pessoas faz. É tudo um truque

1

“Parte das razões pelas quais as pessoas agem altruisticamente deve-se às pressões sociais. Ser virtuoso é muitas vezes dispendioso e exige que as pessoas abdiquem do seu tempo, dinheiro e esforço. A ignorância é uma saída fácil.”

Sim, quatro em cada 10 pessoas evita deliberadamente verdades desconfortáveis, destaca uma recente meta-análise. 40% dos indivíduos optam por permanecer desinformados sobre os impactos negativos das suas ações nos outros, um conceito mais conhecido como ignorância intencional.

Esta preferência pela ignorância serve aparentemente como um escudo psicológico, ao permitir que os indivíduos mantenham um certo nível de autoimagem e justifiquem decisões egoístas.

A ignorância intencional manifesta-se numa multiplicidade de cenários, tais como desconsiderar evidências científicas sobre a segurança das vacinas, ignorar as implicações éticas do consumo de carne barata ou até fechar os olhos às práticas exploradoras da cadeia de fornecimento de uma empresa, denota o Big Think.

É, por outras palavras, a evitação intencional de informações que poderiam revelar as consequências desfavoráveis das ações de alguém, como explica o estudo da Universidade de Amesterdão publicado no Psychological Bulletin.

Após colocarem os participantes numa situação em que devem escolher entre uma ação autocentrada e uma altruísta, com a oportunidade de permanecerem ignorantes sobre os efeitos da sua escolha nos outros, os resultados não mentiram: cerca de 40% optaram por permanecer desinformados, o que se correlaciona com uma menor probabilidade de comportamento altruísta.

“Queríamos saber quão prevalecente e nociva é a ignorância deliberada, bem como as razões que levam as pessoas a envolverem-se nela”, afirma Linh Vu, candidato a doutoramento na Universidade de Amesterdão.

Egoísmo antes do altruísmo. Mas porquê?

Segundo os investigadores, há duas razões para tal egoísmo se sobrepor: proteção da autoimagem e inatenção cognitiva.

A proteção da autoimagem sugere que não saber as consequências das ações de alguém proporciona uma desculpa conveniente para não agir de maneira mais generosa ou ética.

A inatenção cognitiva, por outro lado, implica um certo nível de preguiça mental ou uma preferência por decisões rápidas sem aprofundar informações adicionais que poderiam levar a um resultado mais considerado.

O estudo revelou ainda que aqueles que procuraram ativamente informações sobre as consequências das suas decisões eram 7% mais propensos a comportar-se de forma altruísta do que aqueles que permaneceram ignorantes, traço que indica que as expectativas da sociedade e o desejo de manter uma autoimagem positiva influenciam significativamente o comportamento altruísta.

Assim, a ignorância torna-se um caminho mais simples para os indivíduos reconciliarem as suas ações com a sua autoimagem sem o peso da culpa ou da responsabilidade que vem com a consciência.

“Os resultados são fascinantes, pois sugerem que muitos dos comportamentos altruístas que observamos são motivados pelo desejo de agir conforme as expectativas dos outros,” disse em comunicado Shaul Shalvi, coautor e professor de ética comportamental na Universidade de Amesterdão.

“Uma parte das razões pelas quais as pessoas agem altruisticamente deve-se às pressões sociais assim como ao seu desejo de se verem a si mesmas sob uma luz positiva. Sendo que ser virtuoso é muitas vezes dispendioso, exigindo que as pessoas abdiquem do seu tempo, dinheiro e esforço. A ignorância oferece uma saída fácil.”

ZAP //

Siga o ZAP no Whatsapp

1 Comment

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.