Primo do príncipe saudita ameaça EUA com “jihad e martírio”. Será este o início do fim da aliança?

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Bandar Aljakloud / EPA

Apesar de o corte na produção de petróleo ter aumentado a tensão entre os velhos aliados, os analistas consideram que esta crise não vai causar um divórcio entre os Estados Unidos e a Arábia Saudita.

A tensão entre os Estados Unidos e a Arábia Saudita tem sido evidente nas últimas semanas, tanto que um primo do príncipe saudita Mohammed bin Salman publicou um vídeo onde ameaça o Ocidente com uma guerra santa.

Saud al-Shaalan, que é um líder tribal e é neto do rei Abdulaziz, deixa um lembrete a “qualquer pessoa que desafie a existência deste país e reino” de que “somos todos produtos da jihad e do martírio“. “Essa é a minha mensagem para qualquer um que pense que nos pode ameaçar”, avisa, tanto em inglês como em francês.

 

O recente corte na produção de petróleo anunciado pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo, que a Arábia Saudita lidera, foi a faísca que acendeu o clima de conflito entre Washington e Riade.

Em Julho, Joe Biden quebrou a promessa eleitoral de esfriar as relações com os sauditas quando se encontrou com o príncipe Mohammed bin Salman, na esperança de conseguir um aumento na produção petrolífera que permitisse uma redução nos preços dos combustíveis.

No entanto, os seus esforços foram em vão e a OPEP avançou com um corte à produção que promete fazer os preços da energia subir ainda mais. A decisão está a ser encarada como um apoio indirecto a Putin, dado que manter os preços altos aumenta a pressão sobre as economias ocidentais que boicotaram o petróleo e gás russos no seguimento da invasão à Ucrânia.

Vários políticos Democratas estão a apelar a Biden que retalie e o Presidente norte-americano já fez saber que a decisão dos sauditas “terá consequências“.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros nega que a decisão tenha motivações políticas e diz que o reino “clarificou através das suas consultas contínuas com a administração dos Estados Unidos que todas as análises económicas indicam que adiar a decisão da OPEP durante um mês, como foi sugerido, teria consequências económicas negativas”.

Há até analistas que antecipam que o conflito na Europa se torne no palco de uma guerra entre o Ocidente e uma aliança de países anti-Ocidente que darão apoio à Rússia, como a Arábia Saudita ou o Irão.

A história das relações

Desde 1945, quando Franklin Roosevelt se encontrou com o rei Abdelaziz bin Saud, que a aliança entre os Estados Unidos e a Arábia Saudita está assente numa troca simples: eu dou-te armas para te defenderes, tu dás-me petróleo.

Mas será que esta crise pode ditar o fim do acordo? Há vários políticos Democratas que acreditam que sim e que já estão a debater com a Casa Branca qual a melhor medida de retaliação contra os sauditas.

Do lado dos sauditas, o corte explica-se por ser uma tentativa de subir os preços após a quebra que se tem verificado desde o início do Verão e também serve para mostrar o desagrado com a imposição de tectos máximos nos preços que vários países têm implementado.

Não é só a Arábia Saudita que está de costas viradas para os Estados Unidos. “Quem é que ele pensa que é? Quem é Joe Biden? Estes são os nossos recursos“, respondeu um executivo do ramo da energia nos Emirados Árabes Unidos.

Para os americanos, a decisão foi uma traição imperdoável, especialmente depois de Biden ter posto o seu orgulho de lado e dado o corpo às balas com as críticas que recebeu de estar a lavar a imagem de Mohammed bin Salman ao aceitar o encontro em Riade.

O corte traz ainda mais um problema ao Presidente norte-americano, já que os preços dos combustíveis estão constantemente entre as principais preocupações dos eleitores e as intercalares estão à porta, podendo esta decisão crucial ser determinante para as esperanças Democratas de segurar o controlo do Congresso.

Nenhum dos lados está disposto a ceder. Os Democratas não querem só um fornecimento estável de petróleo, querem-no também a um preço baixo. Já os países do Golfo querem um aliado no Ocidente que proteja mais os seus interesses, não só com a venda de armas, mas também no terreno — e o desgaste na população americana com as guerras aparentemente infindáveis no Iraque e no Afeganistão leva os árabes a acreditar que esta aliança já não vale a pena.

Presos num casamento infeliz

No entanto, uma ruptura total é pouco provável, dado que os países do Médio Oriente não têm uma alternativa melhor. A Rússia está demasiado ocupada com a guerra na Ucrânia e tem mais em que pensar do que ajudar o Golfo nas suas disputas com o Irão. Já a China não tem nenhum interesse em envolver-se nestes conflitos regionais e até têm mantido relações amigáveis com os iranianos.

“Assim, os Estados Unidos e os estados do Golfo estão infelizmente presos um ao outro – por enquanto. Podem discordar fortemente sobre os preços do petróleo, a guerra na Ucrânia e muitas outras questões. A troca do petróleo por segurança não é mais uma base sólida para esta relação. Mas ninguém em Washington ou Riad parece interessado em encontrar algo que seja”, escreve o The Economist.

A investigadora Annelle Sheline concorda e fala numa “tempestade num copo de água” em Washington, que continua a depender do petróleo saudita.

“Acho que não vamos ver um divórcio a nascer deste casamento em crise. Mas imagino que continuemos a ver mais descontentamento tanto dos americanos como dos sauditas e a questão ‘por que é que continuamos a aguentar com isto de um país que se considera nosso aliado'”, explica à Al-Jazeera.

O ex-diplomata norte-americano Gerald Feierstein acredita que os interesses mútuos vão prevalecer, apesar dos arrufos. “Tem havido problemas quando a relação parece instável, mas volta sempre à realidade de que, apesar de tudo, há interesses comuns“, afirma.

Mesmo assim, há quem não acredite nas justificações da Arábia Saudita de que a decisão não foi política e consideram o timing do corte na produção suspeito.

“Não posso exagerar no drama que o timing produzir. Mohamed bin Salman quer Donald Trump de volta. Eles deram-se bem durante a administração Trump. Se os Democratas perderem a Câmara dos Representantes e o Senado, estará um passo mais perto de ter o seu preferido de volta à Sala Oval”, considera.

Adriana Peixoto, ZAP //

9 Comments

  1. Lá vem os azeiteiros com a porcaria da jihad. Afinal são ditadores como os russos. Estão sempre à espera de uma brecha para lixar o Ocidente.

    • ….. se calhar foram os anos e anos a abusar dos árabes e a usar o médio oriente por parte dos ” bonzinhos ” e éticos dos Ocidentais que os levaram para ai ……..

      • Deve andar desligado da realidade….. Um dia vá a França ou a Londres ver o resultado de anos e anos em que os ” bonzinhos” receberam árabes sem lhes impor regras.

  2. é preciso pagarem os luxos como casas, carros, droga…
    o povo passa fome, é obrigado a ser crente e a adorar alá para os seus reis e principes levaram uma vida de luxo e de esbanjo…

  3. Os sauditas vendem 70% do seu petróleo aos asiáticos. O MbS deve estar a tremer nas sandálias com as ameaças do biden…

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