Salvini faz ultimato a Berlusconi e ameaça propor outro nome para PR italiano

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Silvio Berlusconi

Número de parlamentares infetados com covid-19 pode condicionar eleição no parlamento italiano, que tem como objetivo escolher o próximo chefe de Estado do país. 

O líder do partido de extrema-direita italiana Liga, Matteo Salvini, pediu hoje ao seu parceiro de coligação Silvio Berlusconi que oficialize a sua candidatura à Presidência da República antes de domingo, ameaçando propor outro nome. “[Berlusconi deve apresentar a candidatura] antes da votação começar na semana que vem”, respondeu aos jornalistas sobre quanto tempo está a dar ao ex-primeiro-ministro de Itália para assumir a sua vontade de ser eleito novo chefe de Estado.

Matteo Salvini pediu ao magnata que oficialize as suas aspirações o mais rápido possível, sabendo que a eleição será realizada através dos votos anónimos dos parlamentares. Caso contrário, na próxima semana, a Liga “vai fazer uma proposta que poderá ser convincente para muitos, senão para todos”, assegurou Salvini.

Os partidos italianos continuam divididos quanto ao candidato a escolher como novo Presidente da República, a uma semana do escrutínio, com as negociações bloqueadas pela proposta da direita de Silvio Berlusconi, nome rejeitado por centro e esquerda. Na próxima segunda-feira, 24 de janeiro, o parlamento italiano será convocado em sessão conjunta – 630 deputados, 320 senadores e 58 delegados regionais – para escolher o chefe de Estado de Itália para os próximos sete anos, antes de terminar o mandato do atual titular do cargo, Sergio Mattarella, a 3 de fevereiro.

A eleição do novo Presidente requer números elevados que nenhum bloco tem por si só — maioria de dois terços do hemiciclo ou maioria absoluta (metade mais um) a partir da quarta votação —, pelo que os partidos deverão aproximar posições ou negociar nomes de candidatos. Contudo, a uma semana do início do escrutínio para o mais elevado cargo do Estado, árbitro da sempre agitada política italiana, os grupos e blocos políticos continuam entrincheirados nas suas posições.

Berlusconi é o candidato escolhido pela ala direita composta pelo seu partido, Força Itália (FI), os partidos de extrema-direita Liga e Irmãos de Itália, de Matteo Salvini e Giorgia Meloni, respetivamente, e outras pequenas formações conservadores ou democratas-cristãs. Mas o magnata também não confia muito nos seus aliados e pediu aos parlamentares de cada partido da sua coligação que, ao votarem, em segredo, escrevam de um determinado modo o seu nome no boletim, para ele saber quantos traidores há nas suas fileiras, segundo a imprensa.

Berlusconi está também a telefonar aos deputados e senadores do Grupo Misto a pedir-lhes que votem nele, com a ajuda do deputado e historiador Vittorio Sgarbi, como indicou o próprio. No entanto, a proposta do nome do político e empresário tem dificultado qualquer aproximação de posições entre a direita e a esquerda, devido ao seu polémico historial, cheio de escândalos, excessos e condenações.

Para a principal força de centro-esquerda, o Partido Democrata (PD), a proposta do ex-Cavaliere como chefe de Estado é “inconcebível”, declarou hoje a sua porta-voz, Simona Malpezzi, que quer apostar num nome “respeitável e imparcial” eleito por “todos”. O nome do ex-primeiro-ministro foi também rejeitado pelo maior grupo do atual parlamento o Movimento Cinco Estrelas (M5S), e o seu líder, Giuseppe Conte, pediu à direita que “não bloqueie” as negociações impondo um candidato como Berlusconi, “uma opção inaceitável e indefensável”. O M5S reúne-se hoje à noite para analisar hipóteses antes da eleição do novo Presidente italiano.

No meio de ambos os blocos, situa-se o ex-primeiro-ministro Matteo Renzi, chefe da centrista Itália Viva, que assegurou, numa entrevista ao jornal Corriere della Sera, que fala “com todos” e que Berlusconi não tem os votos necessários.

Outra dúvida é se o parlamento proporá como chefe de Estado o atual primeiro-ministro, Mario Draghi, cujo mandato à frente do executivo termina em 2023 — o que, a acontecer, implicaria uma mudança no Governo em plena aplicação do Plano de Recuperação, ou resultaria mesmo em eleições legislativas antecipadas.

Especialmente importante é o número de parlamentares que, neste momento, estão infetados com covid-19 – pelo menos nove senadores -, já que, segundo a lei, não podem sair de casa para participar na votação, protegida, além disso, por um férreo protocolo contra a doença.

// Lusa

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