Em entrevista à TSF, Ricardo Salgado afirmou que consegue dormir, mas não “totalmente descansado”. Uma das suas preocupações são os lesados do BES.
Ricardo Salgado não dorme “totalmente descansado”. Uma das suas principais preocupações são os chamados “lesados”, que o ex-presidente do Banco Espírito do Santo (BES) afirma não ter sido ele a causar.
Salgado adiantou que está atualmente a escrever as suas memórias para evitar ficar na História como o homem que afundou o BES. Além disso, durante a entrevista, voltou a criticar o Banco de Portugal por não aceitar a garantia angolana e por ter provocado o isolamento do BES em relação ao resto do grupo.
“Penso todos os dias nos lesados. Todos os dias. E sofro com isso. O Banco Espírito Santo tem 150 anos e nunca lesou ninguém. Agora, quem desencadeou este processo do cerco, como há pouco lhe disse, à área não financeira do grupo é que acabou por fazer cair empresas como a Tranquilidade e outras. Não fui eu que provoquei os lesados, não fui eu que causei esta resolução. Não sou responsável por isso”, disse, em entrevista à TSF.
Na sua opinião, voltou a defender o ex-presidente, o banco e o grupo sempre cumpriram os procedimentos. “Houve falhas? Houve certamente, na área não financeira, na contabilidade da ES International onde se veio a verificar um passivo oculto”.
Ainda assim, Salgado argumenta que “uma boa parte da dívida portuguesa internacional está oculta? Não é expressa. Mas não é só a de Portugal. Outros países fazem isso. Nós não fizemos isso de propósito. Houve um lapso que se introduziu, enfim, inexplicável…”
Por fim, Salgado garantiu que “o Banco de Portugal nunca me disse, até ao fim, que eu deveria de sair. Uma situação espantosa. Nunca”.
“Eu tinha dito ao Banco de Portugal que estava um processo de sucessão em curso. No dia 7 de novembro fiz uma reunião com os meus pares e disse que tínhamos de começar a programar a minha sucessão. Até porque havia muitos comentários nos jornais sobre as ambições, algumas delas desmedidas, que surgiam por parte dos meus familiares para ocupar o lugar”, adiantou.
Para o ex-presidente do BES, se não tivesse havido o ring fencing, a “quarentena” que o Banco de Portugal aplicou ao grupo, Salgado só precisaria de “mais cinco anos” para colocar todo o grupo em boa situação financeira. Como isso não se verificou, seguiu-se uma série de negócios estranhos, designadamente a venda da seguradora Tranquilidade ao fundo norte-americano Apollo, um “fundo abutre” que foi “favorecido” porque “comprou a empresa por nada”.
“Todos os dias luta para a reparação. E quero acreditar que há Justiça em Portugal. Que continua a haver justiça em Portugal. Bom, sempre disse isso. De maneira que tenho esperanças. Agora, há uma coisa que já não é reparável: é o desaparecimento do maior banco comercial português, do mais internacional dos bancos portugueses. Tem um efeito tremendo sobre o nosso país”, concluiu.
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