Salários sobem abaixo da produtividade há mais de 20 anos em Portugal

Um novo relatório da OCDE revela que desde o início do século que os salários em Portugal estão desajustados com o crescimento da produtividade.

O crescimento da produtividade em Portugal não tem sido acompanhado por aumentos correspondentes nos salários dos trabalhadores, revela um relatório recente da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE).

Este desequilíbrio tem sido uma constante ao longo das últimas duas décadas, apesar das discussões recorrentes sobre a necessidade de alinhar melhor os salários com a produtividade para impulsionar o bem-estar dos trabalhadores. Uma das promessas eleitorais do novo Governo é inclusive ajustar os aumentos salariais à inflação e ao crescimento da produtividade.

Os dados ajustados da OCDE indicam que, desde 1995, a produtividade em Portugal aumentou 49,9%, enquanto que os salários reais cresceram apenas 39%. Este fosso salarial, que se acentuou particularmente durante os anos de intervenção da troika entre 2011 e 2014, sugere que os ganhos de eficiência na economia portuguesa não estão a ser justamente refletidos nas remunerações dos trabalhadores.

A análise da OCDE destaca que a divergência salarial se agravou em 2022, ano marcado pela recuperação pós-pandemia e por uma inflação elevada. Enquanto a produtividade ajustada registou um aumento de 2,7%, houve uma queda real de 3,3% na massa salarial média por trabalhador. Estes números colocam Portugal, juntamente com Itália e Espanha, entre os únicos países da OCDE onde a produtividade aumentou ou estabilizou enquanto que o salário médio caiu.

O relatório também sublinha um momento de desempenho excepcional para a produtividade portuguesa em 2022, que viu o produto por hora trabalhada subir 6,1%, o maior aumento entre os países da OCDE. Este salto deve-se principalmente à chamada produtividade total de fatores, que mede a capacidade de gerar mais valor com os mesmos ou menos recursos.

O desajuste entre a produtividade e os salários nota-se especialmente em setores excluídos das estatísticas habituais, como o primário e o imobiliário, onde os lucros podem aumentar significativamente sem que isso se traduza em melhores salários para os trabalhadores, aponta o Jornal de Negócios.

Este relatório surge ainda num contexto em que uma das promessas eleitorais do novo Governo foi inclusive ajustar os aumentos salariais à inflação e ao crescimento da produtividade.

ZAP //

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