Aqui está uma experiência científica que parece agonizante, numa altura em que o mundo atravessa uma onda de calor recorde.
Um estudo realizado durante seis anos investigou o efeito das altas temperaturas no comportamento humano — especificamente, a sua propensão para aumentar a agressividade e violência.
A equipa de investigadores, liderada por Edward Miguel, professor da Universidade da Califórnia, colocou os participantes no estudo em duas salas — uma mais fresca, a 20 graus, e uma outra com uns quase insuportáveis 30 graus.
Os participantes jogaram então a um jogo chamado “A Alegria da Destruição“, no qual tinham a opção de apagar anonimamente os pontos ganhos por outro jogador — mesmo que não ganhassem nada com essa ação.
Na sala mais fresca, cerca de 8% dos participantes optou por destruir os prémios de outro jogador. No entanto, na sala mais quente, mais de 20% dos participantes escolheu apagar os pontos de outro jogador — um aumento de mais de 50% em comportamentos anti-sociais.
“Destruir os ganhos dos outros participantes é uma ação extremamente anti-social, e um bom reflexo do comportamento agressivo no mundo real”, diz Edward Miguel à NPR.
O estudo, inicialmente publicado em 2019 pelo National Bureau of Economic Research, encontrou também uma correlação fascinante entre a agressividade impulsionada pelo calor e as afiliações políticas dos participantes.
Entre os participantes no estudo, que decorreu durante um tenso período de campanha eleitoral no Quénia, estava incluído um grupo de estudantes universitários de Nairobi, a capital do país africano.
Os estudantes ligados a um dado partido, então na oposição e etnicamente marginalizado, mostraram uma agressividade elevada na sala quente, enquanto os estudantes afiliados ao partido no poder permaneceram inafectados.
Edward Miguel sugere que o calor pode servir como acelerador da agressividade, incitando ainda mais os que já manifestavam queixas políticas.
Dados de estudos anteriores sugeriam que os países mais pobres registam maiores níveis de violência. Além disso, estudos sociais nos anos 90 demonstraram uma relação entre baixo rendimento e aumento da violência.
À luz do estudo de Edward Miguel, esta relação pode ser explicada pela maior dependência da agricultura nos países subdesenvolvidos — que se tornam mais suscetíveis a choques económicos impulsionados pelo clima.
Estudos no início dos anos 2000 mostraram um aumento no risco de guerra civil durante períodos de baixa precipitação em África, apoiando ainda mais a ideia de que mudanças climáticas podem exacerbar tensões sociais.
No entanto, além de fatores económicos, a equipa de Edward Miguel procurou perceber se o calor poderia ter um efeito psicológico direto na agressividade — dando sequência a vários estudos anteriores que ligaram o calor a tensões sociais e aumento de conflitualidade, mesmo em nações mais desenvolvidas.
Os resultados da “experiência da Sala Quente”, embora não definitivos, sugerem que há uma potencial ligação direta entre o aumento das temperaturas e o aumento de comportamentos violentos, especialmente entre os que já se sentem politicamente marginalizados.