Investigadores dizem que Andrei Kotov se suicidou, mas ONG aponta para tortura em prisão de Moscovo. Russo de 40 anos estava em preventiva por “atividades extremistas”.
Um russo detido por ter organizado viagens para pessoas LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgénero) foi encontrado morto em Moscovo numa altura em que estava em prisão preventiva, indicaram ontem um grupo de defesa dos direitos humanos e media estatais russos.
Andrei Kotov, diretor da agência de viagens Men Travel, foi acusado o mês passado de “atividades extremistas”, depois de no final de 2023 o Supremo Tribunal da Rússia ter proibido o que designou de “movimento internacional LGBT”, abrindo caminho para a possibilidade de processos judiciais contra os acusados de o integrarem.
Nella Russia di Putin si finisce in carcere e si muore solo perché omosessuali. Andrei Kotov, tour operator che organizzava viaggi LGBT a Mosca, è stato trovato senza vita in cella. Era stato arrestato per aver creato «una comunità estremista che mina i valori tradizionali». pic.twitter.com/Ac17SO1a2L
— Marco Fattorini (@MarcoFattorini) December 29, 2024
Segundo a organização não-governamental de defesa dos direitos humanos OVD-Info, que cita o advogado de Kotov, os investigadores disseram que este se suicidou ao amanhecer desta segunda-feira. A ONG referiu que Kotov, de 40 anos, disse ter sido espancado quando foi detido e e atingido por um taser.
A agência de notícias estatal russa RIA Novosti também informou que Kotov se suicidou na prisão.
Agências noticiosas russas próximas das autoridades policiais afirmaram que Kotov estava a preparar uma viagem de Ano Novo para pessoas LGTBQ+ ao Egito, noticiou a agência noticiosa independente Meduza, e que o agora falecido organizou recentemente um cruzeiro LGBTQ+ no rio Volga, na Rússia. Kotov negou as acusações, dizendo que as viagens que organizou eram passeios de barco e viagens de pesca “normais”.
A Rússia aumentou nos últimos anos as leis contra as pessoas LGBT, considerando-o uma continuação da sua luta contra o Ocidente, cujos valores e modos de vida são classificados como “decadentes” pelo Presidente Vladimir Putin.
O Supremo Tribunal da Rússia proibiu em novembro do ano passado o ativismo LGBTI+ por extremismo, na medida mais drástica contra os defensores dos direitos de pessoas lésbicas, gays, bissexuais, transgénero e intersexuais no país. A decisão abrange o “ movimento internacional LGBTI+” e todas as suas filiais na Rússia.
O Ministério da Justiça argumentou que as autoridades tinham identificado “sinais e manifestações de natureza extremista” por parte de um movimento LGBTI+ a operar na Rússia. O Ministério Público referiu o “incitamento à discórdia social e religiosa”, mas sem apresentar pormenores ou provas, segundo a agência norte-americana AP.
ZAP // Lusa